domingo, 23 de novembro de 2008

Cobertura da Semana de Comunicação

Nos posts abaixo, vocês conferem a cobertura de alguns eventos da Semana de Comunicação da Faculdade Integrada do Ceará, realizada entre 11 e 14 de agosto. Os alunos Davi Garcia, Ederclinger Reis e Antônio Júlio Souza mostram alguns dos painéis de discussão conduzidos durante o evento, em um exercício de apuração e produção noticiosa.

Estímulos da mídia criam equívocos de percepção

Texto: Antônio Júlio Souza

A Estética do Belo na Construção da Imagem dos Ídolos foi o tema abordado nesta sexta feira, 14/11, quarto e último dia da Semana de Comunicação, evento promovido pelos alunos, professores e coordenadores dos cursos de jornalismo e publicidade da Faculdade Integrada do Ceará - FIC. O tema encerra a pretensão da SEMACOM de provocar uma profunda discussão sobre o Espetacular Mundo da Mídia.

Afinal, o que é o belo? Assim começa a fala da professora da FIC Valeria Geremia, uma das convidadas para debater sobre o tema. Para Valeria o mundo tem beleza para quem sabe apreciar. E a mídia, disse ela, muitas vezes nos rouba a percepção do belo, pois passamos a achar que o belo está somente na TV. A falta de criticidade, segundo Valéria, nos leva a olhar a beleza da rosa sem nos dar conta de que não há nela perfume nem espinhos (uma referência ao filme Beleza Americana). “A mídia produz beleza para vender. Até que ponto a beleza exposta pela mídia nos faz bem?” , pergunta ela.

Recorrendo à história do Pequeno Príncipe de autoria do jornalista francês Saint Exupery, quando ele diz que o essencial é invisível aos olhos, a professora da Faculdades Nordeste - FANOR, Ana Valeska, inicia sua participação no debate. Segundo Valeska, os estímulos excessivos criam equívocos de percepção, uma rede de ilusões, podendo até levar à cegueira ( fazendo alusão à obra Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago) “Se o essencial é invisível aos olhos, então há o equívoco”, afirma.

A mídia, na concepção de Ana Valeska, não está preocupada com o cidadão, mas com o consumidor que ele é. Por isso, segundo ela, é valido o pensamento de Leonardo Boff quando ele diz que é preciso a superação do capital material pelo capital espiritual. Pois este, o capital material, desagrega o ser em vista do ter. E passa-se a viver num mundo de aparências. Valeska conclui sua fala dizendo que o ser humano precisa encontrar o belo único que é ele mesmo, não se adequando aos padrões e evitando as armadilhas do sistema.

“O belo é algo que não é padrão. É o sentimento que cada pessoa externa daquilo que ela tem de melhor.” Assim definiu Vitor Hugo, aluno do sexto período de jornalismo, um dos alunos presentes à palestra.

Semana de Comunicação debate "Espetacularização da Política’"

Texto: Ederclinger Melo Reis

"Espetacularização da Política" foi o tema debatido no terceiro de dia da Semana de Comunicação, 13 de novembro, no Auditório Principal da Faculdade Integrada do Ceará, sede Via Corpvs. O assunto foi mais um ponto discutido na Semana que tinha como temática ‘A espetacularização na Mídia’. O Professor de Comunicação Social Adilson Nóbrega mediou o evento, que foi chamado de “picadeiro” - em referência ao tema da Semana, espetáculo - pelo coordenador do curso de Publicidade e Propaganda Reginaldo Gurgel Moreira, onde estiveram no centro o recém eleito vereador João Alfredo e o editor do núcleo de Conjuntura do jornal O Povo, Gualter George.

João Alfredo destacou o espetáculo propriamente dito na política, a forma de como é tratada a política diante da sociedade, em que há uma relação de consumo entre políticos e eleitores. Além disso, ele citou os recursos eletrônicos utilizados como componentes que têm ajudado, como a Internet, uma nova forma de comunicação. Por trás disso, o marketing na política é um ponto fundamental para a visibilidade de um candidato numa eleição, onde o discurso é importante. Alfredo afirmou que não é resultado desse espetáculo porque havia pouco tempo na mídia para o partido dele, o Psol.

Já Gualter debateu a cobertura da mídia diante da política. Ele reconheceu o espetáculo da mídia, mas que se não forem trabalhados outros pontos importantes para o candidato, provavelmente não será eleito. Também, lembrou a relevância da capacidade de que cada pessoa para decidir por si e não minimizar o raciocínio de cada um. “A população não é uma massa de manobra”, disse o jornalista. A Internet também foi um aspecto citado por Walter como também um fator determinante de sucesso de um político, além da existência de vários outros itens para tal.

Apesar de ter apenas um público de aproximadamente cinqüenta pessoas, segundo os organizadores do evento, houve uma boa participação no debate com perguntas que levaram a questionar os convidados.

Para João Alfredo, o momento é importante porque há a possibilidade de ter a própria visão crítica da profissão tanto do jornalismo como da publicidade, “não só da profissão, mas o próprio papel da mídia na sociedade de massa”, disse. Ele ainda espera ter contribuído com o debate levantando questionamento da política no meio da comunicação. “Espero ter contribuído para formar uma consciência crítica do estudante e do profissional”, complementa. O professor Reginaldo destacou que o momento foi para acrescentar o conteúdo debatido na formação dos alunos de publicidade e jornalismo, “conteúdo que vai além da sala de aula através dos convidados”, relatou.

O vereador do Psol também falou que sente falta de debates como este na sociedade. “Tem que haver mais debate para a sociedade, ela tem que entender o sistema, o papel da mídia, como se fosse um bom produto, exercitar seu papel como cidadão nesse meio para não virar uma mera consumidora, acrítica e não virar massa de manobra de interesses”, frisou.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O circo do espetáculo está armado

Texto: Davi Garcia

A Semana de Comunicação (Semacom) de Faculdade Integrada do Ceará (FIC) teve início nesta terça-feira, 11/11, com o tema ``O espetacular mundo da mídia``. A conferência de abertura foi realizada no auditório da faculdade, ambientado de forma a lembrar um grande circo, com fitas coloridas no teto e balões espalhados pelo local. No centro do picadeiro estavam os palestrantes: o presidente da Agencia Boa Notícia, professor Souto Paulino e o teatrólogo e sociólogo Oswald Barroso.

A palavra inicial foi dada pela diretora da unidade Via Corpvs da faculdade Jaqueline Rios, que disse sentir-se “um pouco de malabarista, contorcionista, mágica, domadora e até palhaça”, fazendo referência aos seus afazeres como diretora. Em seguida, os coordenadores dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, Rosane Nunes e Reginaldo Gurgel, respectivamente, agradeceram e presença do público e destacaram a importância do evento para o aprendizado dos alunos. O representante do Diretório Acadêmico de Comunicação Social (Dacs) Anderson Pires salientou o apoio da direção na organização do evento e disse que o tema da Semana era uma crítica à sociedade e visava fomentar o pensamento crítico, em seguida passou a palavra aos palestrantes, que discorreram sobre o espetáculo na mídia.

Oswald Barroso fez referência aos ritos do passado, afirmando que o espaço do evento, que lembrava um circo, era ritual. Para ele, os ritos foram aos poucos se transformando em espetáculo. Também fez menções ao teatro grego e à separação entre palco e platéia. Segundo ele, a mídia eletrônica favorece essa separação, onde a massa é um espectador passivo.

O professsor Souto Paulino destacou o poder da informação e fez críticas àqueles que dizem que tudo é culpa dos meios de comunicação. Para ele a notícia pode ser apresentada por diversas ângulos, a escolha é de quem a faz. Ele fez referência aos programas policiais e disse que eles usam a fração como um todo para fazer o sensacional.

O espaço foi aberto para debates e o assunto mais abordado foi a violência na mídia. Para os palestrantes, esse apelo à violência se dá porque há uma união entre a indústria das armas e a indústria do entretenimento, as duas lucrativas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Entrevistas

Segue abaixo algumas das entrevistas dos alunos da turma 2008.2. Como entrevistados, o jornalista e professor da Faculdade Integrada do Ceará Moacir Maia, o cantor e compositor Moska e o atleta de vôlei de praia Márcio Araújo.

Como linha editorial, a proposta de, por meio da entrevista pingue-pongue, abordar aspectos da trajetória de cada um dos entrevistados.

O resultado pode ser conferido pelos leitores deste blog nos posts abaixo.

Dinamismo profissional


Texto: Maira Pinho, Mônika Maud, Serena Morais
Imagens: Serena Morais
Entrevista: Serena Morais


O jornalista Moacir Maia dos Santos iniciou sua participação no campo da comunicação social cedo, ainda no colégio, localizado em Limoeiro, interior do Ceará, sua cidade natal. Ele e seus colegas tinham um programa de rádio chamado Tocando o Vale pra Frente, tocado nas manhãs de domingo. Mudou-se para a capital, Fortaleza, com o objetivo de concluir o 2º grau e iniciar a faculdade que desejava, Comunicação Social.

Em poucos anos passou de estagiário em rádio para correspondente local pelo sistema Globo de Televisão. Esteve à frente de um telejornal local como apresentador, foi colunista, repórter. Um profissional que ocupou muitos cargos e que não se deixou abater pelas irregularidades e falta de ética, por acreditar na responsabilidade atribuída à sua profissão de passar informações como realmente são, à população.

Sempre esteve ligado às lutas e reivindicações por melhorias à classe dos profissionais de jornalismo, tornando-se presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) durante três anos. Durante sua gestão obteve várias conquistas para os jornalistas cearenses: ampliaram 75% dos associados do sindicato; tiveram ganho de 32 pontos percentuais acima da inflação do período, no Piso salarial; realizaram congressos e eventos.

Na entrevista realizada no Tribunal Regional do Trabalho onde ocupa o cargo de assessor de comunicação, Moacir Maia deixou bem claro, a paixão pela comunicação e diz que nunca irá se aposentar, pois sempre estará pensando em uma nova forma de informar. O jornalista esteve sereno durante toda a entrevista e demonstrou orgulho ao falar das conquistas e experiências que acumula no seu currículo.

Serena - Você veio pra Fortaleza para estudar ou tiveram outras razões?
Moacir – Na verdade, em Limoeiro [cidade natal], já tinha faculdade, a Aureliano Matos, mas não tinha terceiro ano científico, curiosamente. (...) Então eu vim pra cá pra fazer terceiro ano e vestibular. Fiz terceiro ano em três colégios distintos. Consegui uma bolsa para estudar, desde que treinasse handball. Fiz vestibular pra jornalismo e direito. Ainda fiz metade do curso de direito, na Unifor.

Serena – Porque abandonou o curso de direito?
Moacir – Foi quando eu comecei a trabalhar na Caixa Econômica, como estagiário. Fazer duas faculdades e trabalhar um expediente é pior do que trabalhar dois expedientes e fazer uma faculdade. E na realidade eu queria jornalismo. No começo foi uma dúvida fazer Engenharia de Pesca ou Jornalismo, mas como eu já tinha participado de um movimento jovem lá em Limoeiro, tínhamos um programa de rádio chamado Tocando o Vale pra Frente, feito aos domingos pela manhã, então decidi ficar na comunicação que já era algo que gostava.

Serena – Qual foi sua primeira experiência, aqui em Fortaleza, na área de Jornalismo?
Moacir – Foi em 82, fui fazer um estágio na TV Verdes Mares, na rádio. Ao final de 83apareceu uma vaga e fui contratado. Fiquei até 86 quando, depois de um curso da TV Globo, eu passei da rádio para a TV Verdes Mares.

Serena - Quando você se tornou correspondente nacional da Globo?
Moacir - Em 88 a Globo pressionou as afiliadas e determinou que montassem núcleos para atender os telejornais de rede. Fiquei 8 ou 9 anos fazendo matérias para os telejornais de rede. Um período bom, de muito aprendizado porque se tem, às vezes, muitas limitações de pauta por questões paroquiais e, quando é uma matéria pra Rede nos poupa de desgastes locais. Permitiu-me ter ido emprestado uns 3 anos seguidos para a TV Globo em São Paulo/Rio, trabalhando lá também. Foi um período muito rico em agregar conhecimento porque todo dia você aprende uma coisa nova.

Serena - Existe diferença do jornalismo local para o que é feito para Rede Nacional?
Moacir - O que eu verifico é que quando as empresas estão vinculadas a grupos econômicos e políticos, sempre existem os interesses pontuais. Mas o que, fundamentalmente, importa é se o profissional está disposto a fazer jornalismo bem feito e isso impõe, em determinados momentos, que você brigue um pouco mais, se indisponha um pouco mais sobre algumas chefias. Eu lembro que o Jornal Nacional chegou a colocar duas matérias, de dois repórteres distintos e isso para uma afiliada é algo assim [pausa] fantástico. A pauta no Jornal Nacional por exemplo, é muito fechada, com 60/70% da pauta para o Rio, São Paulo ou Brasília e o resto do país brigando por um minuto. É interessante perceber que nós podemos criar uma referência boa daquilo que produzimos e não só sair matéria da seca.

Serena - Você já teve problemas com empresas e profissionais devido a falta de ética?
Moacir - Aquele que capitular diante do imperativo ético, aquele que se deixar dobrar por interesse pontual da empresa ou de um chefe e abrir mão de cumprir estritamente o que está preconizado no código de ética da nossa profissão, não deveria nem ter entrado. Eu cheguei a ter problemas com colegas, querendo ser mais realistas que o rei, querendo agradar mais do que deveriam, ou pelo simples exercício profissional, querendo agradar “puxando o saco”. Isso me colocou em situação um pouco incômoda de ter que peitar a própria empresa. Eu lembro um episódio onde eu cheguei a dizer que não refaria a matéria por uma questão muito simples: “eu sou repórter da Verdes Mares porque eu sou jornalista. Eu não sou jornalistas porque sou repórter da Verdes Mares”. No dia que alguma empresa quiser obrigar um jornalista a fazer alguma coisa que vai em desacordo com o código de ética da profissão dele, não espere ser demitido pela empresa, demita-a antes, pois ela não te merece. O único patrimônio que um jornalista pode se dar o luxo de classificar como inalienável e que ele vai construir sua vida honestamente, é um nome que faça referência e tenha pertinência numa postura ética.

Serena – Você acha que a disciplina de Ética na faculdade é de fundamental importância?
Moacir - Eu tenho críticas ao que se tem apresentado como proposta de uma nova grade curricular para os cursos de jornalismo. O debate que vai pra sociedade e que aparece como imperativo permanente de questionamento é: porque que jornal tal não deu determinada matéria, e é esse o debate ético que está na sociedade. Pena estarmos em um momento que alguns valores da sociedade como um todo seja o ponto de vista ético na política, nos negócios. Mas eu continuo acreditando que aquilo que é necessário à formação do jornalista é que ele possa adquirir um conjunto de valores e de referência que o leve objetivamente a ter plena consciência de que o jornalismo só existe, nessa perspectiva de serviço público, quando ele está focado na defesa intransigente do interesse difuso, do interesse coletivo e isso impõe verdadeiramente a capacidade de fazer um jornalismo ético.

Serena - Como você chegou à presidência do Sindjorce?
Moacir - Eu comecei a frequentar o Sindjorce ainda estudante, depois me associei como profissional. Durante a gestão do Amaury, em 1995, eram duas chapas na disputa, então sugeri unir ambas, pois era um sindicato pequeno, não havia porque ter briga, então fomos eleitos. Para mim foi um aprendizado fantástico. Digo sempre que quem for convidado a compor uma chapa do sindicato, não pense que aquilo é trabalho ou peso nos ombros. É uma honra acima de tudo, e mais que isso, é uma oportunidade fantástica de aprendizado. Foi um período riquíssimo em que eu cresci muito como cidadão e como profissional. Foram 3 anos que trabalhamos em várias frentes, ampliamos em 75% o número de associados do sindicato , tivemos um Piso salarial com ganho de 32 pontos percentuais acima da inflação do período - os três anos acumulados, tivemos uma capacidade de inserção na vida da comunidade com o projeto Área da Cultura, fomos o sindicato que mais promoveu congressos e eventos no país inteiro nesse período.

Serena – Você pensa em se candidatar novamente ao cargo de presidente do Sindjorce?
Moacir – Eu continuo na militância como diretor da FENAJ e participo da vida do sindicato, mas não cogito um novo mandato a presidente.

Serena – Desde quando você está engajado a FENAJ?
Moacir – Eu estou na diretoria da FENAJ, no Departamento de Relações Internacionais, há três gestões seguidas.

Serena – O que o levou a entrar na área do ensino em jornalismo? O que você espera passar aos futuros jornalistas como professor?
Moacir – Uma colega de trabalho, sempre dizia para eu integrar a academia, ajudar a formar e refletir com os meninos sobre o jornalismo. Até que um dia o Alejandro [Sepúlveda, ex-coordenador do curso de Jornalismo da FIC] me ligou e convidou - era a primeira turma ainda que iria se formar da FIC – para dar a disciplina de Telejornalismo e depois a disciplina de Realidade Regional de Comunicação. Fui com o melhor dos sentimentos, a maior boa vontade, tentar ajudar. Já tentei articular com outros colegas a idéia de fazer um encontro com os professores de jornalismo aqui do Ceará, que nunca teve, pra começarmos a trabalhar uma pauta com algum sentido de unidade, objetivando a melhor formação. Isso é uma despeita, as instituições terem as suas brigas de mercado. Precisamos unir um pouco mais as nossas forças, porque parece que falta muito essa articulação. Nós, na área da comunicação, nos comunicamos muito pouco, trocamos pouco nossas experiências, recebemos pouco de auxílio dos companheiros. Eu já pensei em parar, pois é cansativo, às vezes até um pouco desestimulante, mas eu acho que temos compromisso com essa causa.

Serena – Os programas Cena Pública e Ciclo de Debates, que você apresenta na TVC, são produções relacionadas entre si ou existe uma diferenciação?
Moacir – Na verdade a pauta do Cena Pública é mais ampla possível. É discutido de célula tronco à CPI dos Grampos. Então aquilo que a experiência humana alcança, que a sociedade experimenta como objeto das suas relações cotidianas, nós temos na pauta do Cena Pública. O Ciclo de Debates já é um projeto mais novo, ele guarda obediência pra habitar mais no eixo da política e da economia. É um programa de uma pretensão um pouco mais segmentada, porém com a preocupação de estar contextualizando esses temas que pareçam ser meramente segmentados pra chegar mais amplos ao espectro da população. Eu tenho um projeto para outro programa na TVC, na área de música, que é um setor que me atrai fantasticamente. Mas é tudo uma questão de ter tempo e capacidade de se articular e fazer o projeto rodar.

Serena – Devido à experiência que você acumula, já passou pela sua cabeça relatá-las por escrito?
Moacir – Já, mas me considero meio indisciplinado naquilo que me vem como idéia às vezes. Porque eu acho que pra correr atrás daquilo que precisamos, até pra sobreviver, há necessidade de ter disciplina, pois eu sempre entrei nas coisas muito de cabeça. Nos últimos tempos eu tenho pensado mais em como refletir, não só o relato puro e simples dessas experiências, mas reflexões que permitam inclusive guardar obediência àquilo que apreendemos ao longo da vida profissional que é o sentido exato do que representa ser jornalista. Entendendo essa atividade como algo extremamente essencial à vida em sociedade, sobretudo a construção da democracia no nosso país. Eu quero ir produzindo para ajudar muito mais no debate do que mesmo só um registro histórico do que eu possa ter vivido.

Serena – E com relação ao futuro? Alguma pretensão?
Moacir - Nunca paro de pensar em coisas novas e de me envolver em outros projetos. Como dizem em Limoeiro: quando você anda de bicicleta, não pode parar de pedalar, porque senão cai. Não penso em me aposentar. Se daqui a alguns anos não for possível me manter em nenhum veículo, mesmo assim eu não quero parar de pensar em comunicação de jornalismo, então irei atrás de outros canais para expressar isso.

Filosofia de Moska


Foto: Ederclinger Melo Reis
Edição: Ederclinger Melo Reis e Germana Cleia da Silva
Texto de abertura: Ederclinger Melo Reis e Germana Cleia da Silva


O apelido é a sua assinatura. Aos 41 anos, o cantor Moska, coleciona oito discos na carreira solo, sete “modestas” participações em filmes (como ele próprio fala) entre outros trabalhos como ator em mini-séries e espetáculos teatrais.

Historicamente, Paulo Correia de Araújo é considerado pelos críticos como uma pessoa que passou por várias transformações: começou no grupo Garganta Profunda, foi para o “Inimigos do Reis”. Deixou de ser Paulinho Moska para ficar com o segundo nome, quando lançou o álbum ‘Eu Falso da Minha Vida o que Eu Quiser’, em 2001, num momento difícil de sua vida o qual ele não quis revelar. Isso até chegar no “Tudo Novo de Novo”, transformando a dor em amor.

Atualmente, paralelo à sua carreira no estúdio e no palco, Moska atua como apresentador e cantor no programa televisivo de entrevistas e músicas “Zoombido – A Canção de Todo Mundo”, do Canal Brasil. Ele vive um momento de alegria, segundo o próprio, com o seu novo disco “Mais Novo de Novo”, mas ainda com sua marca do que ele chama de “melancoliberdade”.

A seguir, Moska mostra sua faceta filosófica e “metamorfósica” da carreira já consagrada do cenário nacional da música popular brasileira. O carioca revela suas idéias e experiências, em especial no álbum totalmente independente ‘Tudo Novo de Novo’, quando fotografava seu próprio reflexo em objetos espelhados nos hotéis por onde passava.

O camarim do BNB Clube serviu de sala de espera para que esta entrevista fosse realizada. Esperamos aproximadamente três horas até que Moska passasse o som e nos atendesse. Ele vestia uma calça camuflada modelo exército, uma camiseta branca com o desenho de cara engraçada e os dizeres: “This was my face before surgery” [Esta era a minha cara antes da cirurgia], sapato Cross, meias brancas com detalhes de flores e chapéu xadrez. Simpático, Moska apresentou, na maioria do tempo, inquietação, cruzava e descruzava as pernas e mãos.

No final da entrevista, pedimos que ele se fotografasse no reflexo do espelho, provocando nele o sentimento de voltar aos velhos e bons tempos em que ele fazia tal atividade.

Ao ser indagado sobre seu novo estado de ser, depois de grandes transformações na sua trajetória, apesar de se esquivar e se acomodar melhor na poltrona, ele filosofa.

Eder e Germana: Você considera que o Álbum ‘Tudo Novo de Novo’ se tornou uma transformação na sua vida? Você utilizou as fotografias que fazia do seu reflexo em hotéis nos quais ficava hospedado. Como foi?
Moska: Primeira coisa que eu já consegui foi fugir do banheiro, consegui escapar do banheiro. Eu já não faço mais fotografias de hotéis, porque justamente já fiz 4 mil, em três anos e fiz outras 3 mil em homenagem a elas. Dei nomes para as que eu mais gostava e depois escrevi poemas para os nomes e depois as canções para os nomes. Foi um processo que não foi pensado. Eu comecei a fazer as fotos sem saber o porquê de estar fazendo. E aos poucos me vi com uma quantidade enorme e uma pressão de fazer alguma coisa para aquilo, antes que eu enlouquecesse.

Eder e Germana: E como foi a primeira?
Moska: A primeira foi em Nova Iorque, três dias antes dos ataques terroristas [ele se refere ao atentado, no dia 11 de setembro de 2001, ao Word Trade Center]. Comprei essa câmera digital e estava com o manual no hotel e havia um botão chamado ‘micro’ para fotografar coisas mais pequenas e eu saí experimentando este botão pra testar a câmera. Procurei um objeto pequeno e vi o meu reflexo na maçaneta, não numa torneira de metal. Comecei a fotografar muito mal, na verdade. Estas primeiras são muito feias. Não feias, mas não cheguei a uma qualidade que ela não tem.

Eder e Germana: Qual lhe chamou mais atenção?
Moska: Na verdade a primeira que me chamou atenção foi por volta de 1500. Eu jogava no computador e deixava lá. E um dia no Japão, em 2001 eu tirei um foto com numa torneira que tinha um diamante em cima, uma imitação de diamante para abrir e fechar a água da torneira. Botei meus olhos onde caía água e dei um nome para esta foto, chama-se ‘Lágrimas de Diamantes’.

Eder e Germana: Você fez alguma homenagem também a essa foto?
Moska: Uns três meses depois eu estava indo para a Chapada Diamantina fazer um show e justamente lembrei, por causa do Diamante, do nome Diamantina e comecei a fazer uma letra lembrando da foto. Depois quando cheguei em casa peguei a letra e fiz a música e dei o nome da música de ‘Lágrimas de Diamantes’. Descobri o que fazer com as fotos. Passei então a fotografar buscando uma imagem que me sugerisse um nome para escrever um poema e fazer uma canção.

Eder e Germana: Houve algum momento em que você tirasse a foto só depois de compor uma música?
Moska: No meio do processo, eu inverti também: fazia uma música e depois tirava foto, buscava um nome através da foto, enfim o processo se misturou e a partir de um certo momento sabia que estava fazendo um disco, que era um processo fechado que juntava imagem com palavra e música. Passei a dirigir um novo álbum que nasceu natural, que acho que é o melhor caminho que você faz uma obra. Tenho fruição, que eu te falei: deixa rolar e depois uma certa manipulação, você se institui com aquilo, começa a organizar ou ter umas idéias meio malucas. Lembro-me que algumas fotos tinham flores desenhadas nuns azulejos que ficavam por trás dos objetos que eu fotografava como se fosse um cenário. Então essas que tinham flores eu também separava numa pasta especial e dei um nome pra esta pasta: ‘Jardim do Silêncio’, que leva ou a escrever a letra e depois a música. Então todo o repertório foi feito em cima dessas fotografias, enfim, toda a imagem na luz que tem a fotografia misturada com a idéia de aurora em relação ao crepúsculo do falso.

Eder e Germana: Qual foi o sentido desta experiência para você?
Moska: Foi um caminho delicioso mesmo, como uma libertação desse repertório de escuro, que tinha uma esperança e uma alegria bem distinta. Posso dizer que estou gravando um álbum novo que é mais feliz ainda que o ‘Tudo Novo de Novo’ [ele se refere ao disco que está em estúdio] sem deixar de ser melancólico, que é a minha assinatura também: chamo de ‘melancoliberdade’. Na verdade não é uma tristeza, eu sou uma pessoa muito feliz, só trabalho com a melancolia. Mas esse trabalho me dá uma felicidade enorme, então, eu já chamo de ‘Melancoliberdade’.

Eder e Germana: Conte um pouco mais desta sua nova fase? Isso faz parte de uma das suas tantas transformações?
Moska: É o meu primeiro disco independente, completamente independente. Uma das coisas que mais tem me agradado nessa fase independente é que não tenho mais data para nada. Eu fui contratado de uma multinacional por treze anos, o que tinha data pra tudo, não é? Eu tinha data para entregar repertório, data para entrar no estúdio, data para terminar o disco, data para mandar para a fábrica, data para lançamento e data para fazer sucesso. Hoje, eu me libertei disso, não tem data mais para nada e produzo. Depois que está pronto, vejo como é que vai sair, por onde vai sair ou como. Virei realmente o dono da minha carreira.

Eder e Germana: E como é o seu dia-a-dia de músico?
Moska: Estou gravando de uma maneira muito diferente que sempre gravei. Eu não entrei no estúdio nem me internei no estúdio. Não entrei para gravar e é a primeira vez que eu faço assim: gravo um pouco e levo pra casa, uma semana depois gravo mais um pouco, levo para casa, duas semanas depois gravo mais um pouco. Não estou fazendo comigo o que fizeram quatro anos. Estou aproveitando esta liberdade para transformá-la em qualidade e tranqüilidade.

Eder e Germana: Quem é Paulinho Moska, hoje?
Moska: Quem sou eu? Não sei. Costumo dizer que eu espero da minha vida o que eu seja diferente de ontem e de amanhã, que o tempo presente que eu habite, seja sempre novo pra mim: é o que eu busco. Não estou falando isso porque trabalho com arte: acho que todo mundo é artista, todo mundo tem potencial pra criar e esse potencial vem justamente do tempo, que faz com que não sejamos os mesmos a cada segundo. Então, acho que isso vem do meu entendimento muito particular de que a vida é uma grande mutação constante. Não estou te criticando, só estou respondendo à tua pergunta: essa pergunta, eu acho, é meio descabida para mim [ele se levanta para sentar mais confortavelmente na poltrona], eu não consigo responder algo que não está parado, eu não consigo explicar algo que está em movimento, o movimento é justamente a possibilidade de a gente não se tornar sedentário, é o movimento que faz com que o espírito seja nômade, seja livre e isso se manifesta no presente porque o passado não muda e o futuro a gente não sabe qual é, então, o presente é o lugar onde as coisas acontecem, onde está tudo em movimento. Quem eu sou? Eu sou este tempo presente.

Prata com gosto de ouro


Texto: Antônio Júlio
Fotos: Davi Garcia
Edição: Francisco Emanoel
Texto de abertura: Davi Garcia


O dia 28 de agosto de 2008 foi uma data histórica para Márcio Henrique Barbosa Araújo, ou apenas Márcio para os amantes do vôlei, e para todos os cearenses. Naquele dia ele conseguiu algo inédito, sendo o primeiro atleta masculino de nosso estado a conquistar uma medalha olímpica (antes apenas Shelda, também do vôlei de praia, tinha conseguido tal feito). Mesmo após a frustração com a derrota na final para os americanos Rogers e Dalhauser, Márcio percebeu a importância de seu feito ao chegar em terras cearenses, quando foi ovacionado por milhares de pessoas que o aplaudiam pela conquista da prata.

O cearense de 34 anos iniciou sua carreira no vôlei de praia em 1996 - ao lado de Reis Castro - e também fez parceria com Benjamin, com o qual disputou os jogos olímpicos de Atenas, terminando na nona colocação. Seu atual parceiro é o capixaba Fábio Luiz, que foi de fundamental importância para a atual conquista. Márcio é famoso no mundo do vôlei por suas defesas e levantadas, tendo sido escolhido em 2006 e 2007 o melhor levantador do circuito mundial.

Atualmente, Márcio treina aqui mesmo, no Ceará, nas areias da Beira-Mar e foi lá que ele concedeu à nossa equipe a entrevista que se segue.

Davi - Quais são suas melhores lembranças de Pequim? Houve um momento em especial?
Márcio - As lembranças das olimpíadas de Pequim são muito boas. Eu tive momentos maravilhosos, de sonho mesmo e de muita alegria. Um deles foi a partida da semifinal contra Ricardo e Emanuel, pois foi um jogo muito difícil, muito nervoso e nós conseguimos vencer. A própria interação com os outros atletas brasileiros também foi muito bacana, com a própria Maurren [Maggi, ouro no salto em distância], com a seleção de vôlei. Essa troca de energia é um momento que a gente guarda pra nossa eternidade.

Emanoel - Você comentou sobre a dificuldade na partida contra Ricardo e Emanuel. Como foi derrotá-los?
Márcio - Aqui no Brasil, a gente tem feito bons jogos contra eles e disputa é muito acirrada. Se não me engano, eles têm nove vitórias contra oito nossas, isso quer dizer que estávamos muito iguais. Este ano nós tínhamos enfrentado a dupla uma vez, na etapa de Brasília do circuito nacional, perdemos por dois a um em uma partida muito disputada. Nas Olimpíadas, nós sabíamos que era um momento muito emocional, já que eles estavam disputando o bicampeonato, defendendo o título, enquanto nós estávamos correndo atrás de uma medalha, pois já era minha segunda Olimpíada. Então eu entrei naquele jogo muito determinado, muito focado e eu sabia que ia ganhar aquele jogo.

Júlio - Durante uma matéria exibida após a semifinal você pareceu bastante surpreso em derrotar a dupla Ricardo e Emanuel. Foi realmente uma surpresa para você?
Márcio - De maneira nenhuma! Naquele momento eu demonstrei muito respeito ao adversário, até porque era um time de peso. Pra mim eles são dois “leões’ na praia, então naquele momento a gente matou dois “leões”. Mas eu não fiquei surpreso, mas emocionado e muito feliz, é diferente! É um sentimento de muita gratidão por tudo que a gente fez e aquele momento foi coroado com a vitória. Eu sabia que a gente tinha condições de vencer e o placar não mente. A mídia é que dá sempre ênfase à dupla Ricardo e Emanuel. Não sei porque a mídia faz um “bafafá’ tão grande por termos vencido.

Davi - Você acha que a dupla é colocada de escanteio pela mídia?
Márcio - Com certeza! Existe um “bairrismo” muito grande com o pessoal do Rio de Janeiro. Eu acho que a gente tem que valorizar o que é nosso e eu tenho muito orgulho de ser cearense. Acho que o importante é termos a consciência de que naquele momento tudo é Brasil. Eu sabia que não era mais um, mas um dos 277 atletas que estavam representando uma nação.

Emanoel - Você acha que existe um preconceito com o atleta nordestino?
Márcio - Sem dúvida nenhuma! Hoje nem tanto, já que o berço do vôlei de praia é aqui, foram Franco e Roberto Lopes que desbancaram os americanos [essa vitória aconteceu na etapa do Rio de Janeiro do Circuito Mundial, em 1994]. Mas existe esse “bairrismo”, esse preconceito, até mesmo racismo. O Nordeste tem suas belezas, suas riquezas, seu povo é humilde, mas é trabalhador e também faz o Brasil.

Júlio - Você diria que a conquista da medalha de prata foi a mais importante da sua carreira?
Márcio - Sim. A conquista da medalha de prata foi uma vitória muito grande para minha vida, representa muito e eu acho que isso tem que ser valorizado.

Davi - Após a final olímpica, o narrador Galvão Bueno afirmou que faltou “força mental” à dupla. Você concorda com essa afirmação?
Márcio - Não. Eu acho que naquele momento faltou, na verdade, um pouco mais de atitude. Nós poderíamos ter mudado a situação de jogo, ter feito algumas jogadas diferentes, mas não acho que faltou “força mental”, mas tranqüilidade.

Emanoel - Qual é a sensação de estar em um pódio olímpico?
Márcio - É uma emoção muito grande. Eu já estive em muitos pódios, mas olímpico foi a primeira vez, e é diferente, realmente é diferente. Eu fiquei muito emocionado de estar dividindo aquele pódio com mais de 180 milhões de brasileiros.

Júlio - Como você se sentiu em disputar sua segunda Olimpíada? Você pretende disputar uma terceira?
Márcio - Eu fiquei muito feliz de ter jogado uma segunda Olimpíada, pois a classificação foi muito difícil. E eu pretendo, sim, ir a outra Olimpíada. Eu tenho condições físicas, mentais e técnicas para isso, mas querer é uma coisa e poder é outra. É preciso tranqüilidade e pés no chão, pois o ciclo olímpico não é tão fácil.

Davi - Você se inspira em algum outro atleta? Quem?
Márcio - Um grande ídolo que eu tenho é o americano Karch Kiraly, que já conquistou três medalhas de ouro em Olimpíadas, duas na quadra e uma na praia [seus dois ouros na quadra foram em Los Angeles-1984 e Seul-1988, na praia conquistou em Atlanta-1996]. Ele não é um ídolo só pra mim, mas pra muita gente que joga vôlei. Eu tive o prazer de conhecê-lo, sou amigo dele e ele é uma integridade como pessoa e como profissional. Ele representa muita coisa pro voleibol e eu tento me espelhar na pessoa que ele é. E claro que também temos os nossos ídolos daqui. O Ayrton Senna é um cara vitorioso e acho que ele é um ídolo de todos os brasileiros.

Emanoel - Antes do Fábio você teve mais dois parceiros. Como é feita a adaptação quando ocorre a troca de dupla?
Márcio - Meu primeiro parceiro foi o Reis, que hoje é técnico da dupla Juliana e Larissa. A gente como já era cearense e já se conhecia não teve muito problema. Depois fui jogar com o Benjamin, que morava no Rio de Janeiro. Eu fiz o convite, ele veio morar aqui e fez toda uma base bem feita, com preparação física e técnica, um trabalho focado pra gente chegar na Olimpíada.

Júlio - Você sempre quis ser jogador de vôlei?
Márcio - Eu sempre pratiquei esporte. Eu entrei no vôlei por acaso. Na verdade, eu pratiquei saltos ornamentais e ginástica olímpica durante doze anos. Meu pai é professor de educação física, então eu tive um desenvolvimento dentro da área esportiva muito forte.Apareceu a oportunidade de jogar vôlei no colégio e fui. Então meu treinador do colégio me levou pra praia para ajudar Franco e Roberto [Lopes] e fiquei até hoje.

Davi - Qual foi o pior momento da sua carreira?
Márcio - Acho que foi a Olimpíada de Atenas. Eu achei que podia conquistar uma medalha e foi tudo por água abaixo. A nona colocação foi um resultado muito ruim, eu fiquei muito triste, mas o importante foi que eu aprendi, a decepção veio como lição, isso serviu muito pra mim.

Emanoel - Como é voltar ao Ceará depois dessa conquista?
Márcio - Eu voltei meio triste no avião e não tinha a dimensão do que era conquistar a medalha olímpica. Mas quando cheguei no aeroporto e vi aquela multidão de gente, carro de bombeiros esperando, aquela confusão, aí é que eu caí na real. Eu fiquei muito feliz de ter recebido o carinho dos cearenses.

Júlio - Você foi primeiro atleta masculino do Ceará a conquistar uma medalha olímpica. O que você acha que precisa ser feito para que outros cearenses alcancem essa marca?
Márcio - É importante que o nosso estado faça mais investimentos. Acho que podem surgir outros Márcios, outros Ricardos, Emanuéis, Gibas [Giba é jogador da seleção brasileira masculina de vôlei de quadra], Maurren Maggis. Aqui no Ceará esse material humano existe e o investimento deve ser feito em cima das crianças, pois são elas que vão fazer o futuro do esporte. Eu tenho esperança de que isso um dia possa acontecer, mas isso não depende da gente como atleta, mas dos órgãos responsáveis por esse setor.

domingo, 21 de setembro de 2008

Entrevistas - Lílian Witte Fibe com Zélia Cardoso de Melo - 17/03/1990


Em 17 de março de 1990, um dia após o lançamento do Plano Collor, a então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Melo, concede entrevista ao Jornal Hoje, da Rede Globo.

Como relembra Mário Sérgio Conti, em Notícias do Planalto, a jornalista Lílian Witte Fibe procurou, em sua entrevista, esclarecer dúvidas práticas sobre o plano, após captar a repercussão desses questionamentos nas ruas. Segundo ela, diversas pessoas mostraram dúvidas e preocupações com economias bloqueadas e confisco da poupança, resultantes das medidas do Plano.

Na entrevista, Lílian fez perguntas sobre consórcios, cartões de créditos, mensalidades, salários, dívidas, empréstimos. Em determinado momento, recoloca as perguntas para a ministra, mesmo diante de uma visível irritação de Zélia.

Segundo Lílian, esta foi a entrevista com maior repercussão de sua carreira. Confira o trecho no vídeo abaixo, com a jornalista sendo entrevistada por Jô Soares, no Programa do Jô, da Rede Globo.

Veja a entrevista abaixo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Entrevistas e suas linguagens

Na postagem de hoje, colocamos, na íntegra, algumas das entrevistas debatidas na aula da última terça-feira, dia 16.

Vera Loyola - revista Veja de 05/11/1997 - o perfil da ironia intelectualizada
http://veja.abril.com.br/051197/p_009.html

Jean Baudrillard - revista Época de 7 de junho de 2003 - a entrevista conceitual
http://www.consciencia.net/2003/06/07/baudrillard.html

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pela informação de qualidade, em defesa do diploma


Este blog manifesta publicamente o apoio a uma luta que não diz respeito apenas às categorias de jornalistas e estudantes de Jornalismo, mas à sociedade em geral, que exige e necessita de informação de qualidade: a luta pela obrigatoriedade da formação superior em Comunicação Social para o exercício da atividade jornalística.

Que sejam mantidos e reconhecidos todos os anos de luta em defesa de uma melhor formação técnica, teórica e ética para os profissionais de comunicação, os avanços em pesquisas na área do Jornalismo e os esforços por uma informação democrática e plural.

Quem desejar apoiar a campanha em favor da exigência do diploma e pela regulamentação da profissão, deixe seu recado no site da Federação Nacional dos Jornalistas

sábado, 2 de agosto de 2008

Objetividade jornalística II - o debate Collor X Lula em 1989


Foto: Fernando Maia / Agência O Globo
Na história do telejornalismo brasileiro, um dos casos de maior repercussão foi a edição do Jornal Nacional de 15 de dezembro de 1989, do debate entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos candidatos à presidência da República.

Após acusações de favorecimento da Globo ao candidato Collor de Mello, profissionais da emissora se defenderam, argumentando ter elaborado uma segunda edição do debate - diferente da veiculada naquela mesma data no jornal Hoje - para que esta última fosse mais fiel à realidade do debate transmitido na véspera, ao vivo, por uma cadeia de emissoras de TV. A polêmica, porém, ganhou repercussão tal que motivou a emissora carioca e não mais editar debates de candidatos à Presidência em seus telejornais, prática que tem sido mantida até o presente.

No vídeo abaixo, profissionais do telejornalismo da emissora na época, como Armando Nogueira, Alberico de Souza Cruz, Wianey Pinheiro, contam suas distintas versões sobre a edição do debate.

Objetividade jornalística - o caso Carta Capital em 2006

O editorial da revista Carta Capital, em sua edição 414 de outubro de 2006 motivou uma série de debates sobre a manifestação de apoio de um veículo de comunicação a um candidatato a cargo político. Confira abaixo a íntegra do editorial - assinado pelo editor Mino Carta - e acompanhe sua repercussão em outros blogs e portais da imprensa brasileira.

POR QUE LULA, SEGUNDO CAPÍTULO
Apesar de todas as decepções, o presidente é ainda a melhor opção. Somente ele, na situação, vale como mediador.

Por Mino Carta

A três semanas do segundo turno, CartaCapital confirma sua preferência pela candidatura do presidente Lula. As razões da escolha não mudam, como será provado. Antes algumas considerações, em parte já feitas neste mesmo espaço, a bem de uma definição cristalina.

O governo Lula ficou bastante aquém das esperanças dos eleitores de 2002 e de CartaCapital, e das necessidades do País. Pouco se fez para combater o desequilíbrio social, questão primeira na pauta dos problemas, embora o povo tenha percebido leves progressos, que de fato houve, conforme números recentes do PNAD.

A política econômica ajoelhou-se aos pés do Deus Mercado, submissa aos dogmas neoliberais, e descurou da produção. Nem por isso Lula seduziu porção conspícua dos ricos nativos. CartaCapital não se cansou de criticar o governo, neste e em inúmeros outros pontos da sua atuação.

O PT no poder, depois de ter desfraldado seu comportamento ético por mais de duas décadas, portou-se como os que o precederam, às vezes sem a mesma sutileza, a qual é fruto da experiência. A crise incessantemente denunciada pela mídia, a mirar sempre em um único, inescapável alvo, está longe de ter sido a maior do Brasil. Governos anteriores, a começar pelo de Fernando Henrique Cardoso, foram muito mais eficientes no desmando. Contavam, porém, com o encantamento dos jornalistas e dos seus patrões.

O PT pareceu tão hipócrita quanto os demais partidos, além de incompetente na gestão do poder e das suas próprias conveniências, e navegou entre a trapalhada e o golpe sujo. Ficou claro que um bom número de petistas não estava à altura da tarefa. Traíram idéias, programas, projetos.

Eis um ponto dolorido. Ao cabo do seu mandato, Lula não poderá afirmar ter promovido varões de Plutarco a marechais. E nem mesmo a sargentos, cabos, anspeçadas. Na cidade onde nasci, não seriam escalados para entregar cabritos na véspera de Natal. É quando os ajudantes de açougueiro saem de bicicleta, a carregar os bichos dentro de um cesto, de onde afloram as perninhas amarradas. Fossem certos petistas, enfiariam as bainhas entre os raios das rodas e soçobrariam na sarjeta com seu carregamento.

A conclusão não é animadora. Digamos, porém, que o balanço transcende Lula, é o balanço do Brasil. Não falta quem tape os olhos diante da evidência, o povo inclusive, a se satisfazer com o gol do seu time. Basta, contudo, atentar para o pífio crescimento do País, que se repete há mais de duas décadas, para entender a gravidade da situação. Esta é, de fato, a crise.

Os donos do poder sempre apostaram na resignação do povo, que chamavam de cordialidade. Mas no abismo a separar ricos de pobres, onde já medram a violência urbana, a guerra do tráfico, o PCC, a fúria que mata mais de 50 mil brasileiros a cada ano, a raiva armazenada centenas de anos a fio tem todas as condições de explodir, algum dia, de uma hora para outra.

CartaCapital sustenta há tempo: neste Brasil a risco, por razões que todos conhecemos, embora tantos finjam ignorá-las, neste Brasil de desigualdades insuportáveis, Lula é, nas circunstâncias, o mais qualificado mediador entre a minoria abastada, ou quase, e a maioria estacionada entre a pobreza e a miséria absoluta.

Confira a repercussão no Portal Imprensa aqui

Veja a repercussão no blog do jornalista Reinaldo Azevedo aqui

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Juizado Especial Móvel: agilidade e desburocratização


Cerca 90% das ocorrências de trânsito que envolvem danos materiais são atendidas pelos Juizados nos locais dos acidentes

Texto / foto: Carolyne Barros e Fernanda Sleiman

A cena é corriqueira nas ruas da cidade. O sinal de trânsito abre e os carros se apressam. Trafegam alguns metros e é preciso parar novamente e esperar uma nova chance de pisar no acelerador. Para o motorista de táxi Ananias Melo é esse sistema lento que favorece os acidentes. “A gente fica impaciente, já com o pé no acelerador e, de repente, tem que frear bruscamente”, afirma.

Ananias, que já foi vítima de quatros pequenos acidentes, confessa a preocupação com os gastos ocasionados pelo trânsito. “No mesmo dia que comprei meu táxi novo um motoqueiro me atingiu pela lateral. Acionei o Juizado Móvel porque não tenho seguro, mas fiquei com medo de que ele fugisse antes de qualquer acordo”, conta o taxista.

O Juizado Especial Móvel de Fortaleza é fruto do convênio entre o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e o Tribunal de Justiça do Estado e completa 12 anos de atuação em novembro. Foi por meio dele que Ananias garantiu o conserto do táxi. “Ainda bem que o motoqueiro me pagou tudinho. Demorou, mas pagou”, disse o taxista, referindo-se ao prazo estipulado em seu acordo de 120 dias para o pagamento de reparação dos danos.

Somente no ano passado, o Juizado Móvel atendeu quase 5.000 ocorrências de colisões de trânsito sem danos físicos (vítimas ou lesões), representando 90% dos casos registrados. Na parceria, cabe ao Detran o repasse de verbas para manutenção das três viaturas de atendimento, incluindo os custos de combustível e pagamento do motorista, e o serviço de perícia técnica. O Tribunal de Justiça atua na homologação dos termos conciliadores e nos trâmites de documentação.

Responsável pela desburocratização de ações judiciais referentes à solicitação de ressarcimento para colisões de trânsito, os Juizados Móveis são vinculados à 10ª Unidade dos Juizados Especiais e o serviço já é referência de atendimento em todos os estados. “Em cada localidade, os números já comprovam uma diminuição representativa do volume de ações tramitando nos Juizados. Como o acordo é feito no próprio local do acidente, a documentação já é homologada e a parte prejudicada tem a segurança de contar com o apoio da Justiça”, explica Vólia Rocha, assessora de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará.

Para cada atendimento, um oficial de justiça, um bacharel em Direito (conciliador) e um perito do Detran avaliam o prejuízo material, além de também ouvir as versões apresentadas pelas partes envolvidas. “Quando o acordo é realizado amigavelmente, o processo dura em torno de 20 minutos”, afirma Vólia.

Nos casos em que um dos envolvidos abandona o local do acidente, o prejudicado pode solicitar o laudo pericial do Detran e agendar a audiência de conciliação por telefone. “É importante tomar nota do número da placa do veículo e observar qualquer dado que possa interferir no veredito do juiz, como alta velocidade e manobras imprudentes”, aconselha a assessora. Nessas situações, os atendimentos são mais demorados. “Convidamos as partes para uma audiência de conciliação na sede do Juizado e se, mesmo assim, não houver acordo, a Justiça buscará a solução através dos trâmites legais vigentes”, conclui.

Números

Segundo o Tribunal de Justiça do Estado, desde a criação do Juizado Especial Móvel de Fortaleza, em novembro de 1996, 53.897 colisões já foram atendidas pelas três viaturas de serviço. Desse montante, 46.645 ocorrências resultaram em acordos conciliadores no próprio local do acidente.

Serviço:

Departamento Estadual de Trânsito – Detran
Perícia: 154
Taxa do laudo pericial (somente em casos de abandono do local por uma das partes): R$27,90
Atendimento 24 horas, incluindo feriados e fins de semana.

Juizado Especial Móvel de Fortaleza
(85) 9982.6733/ 9982.6724/ 9982.6735
Atendimento gratuito e 24 horas, incluindo feriados e fins de semana.

CNH Especial para deficientes físicos

Texto: Alyne Barreto, Carlos Gabriel e Jorge Macedo

Andar de ônibus em cidades como Fortaleza, onde os coletivos andam a uma velocidade média de 18 km por hora, está se tornando a cada dia mais complicado. Quando o usuário desse serviço de transporte público é uma pessoa com deficiência física, então, não há o que se comentar diante de tanta dificuldade.

O que muitas dessas pessoas não sabem é que a Constituição brasileira dá direito à isenção de impostos na compra de veículos automotores. Com a isenção de tributos como ICMS, IOF e IPI, o valor de um carro 0 km pode ter uma redução de até 25%. No entanto, a legislação diz que o preço mínimo de um carro comprado nessas condições deve ser de R$ 60 mil.

Para adquirir um veículo adaptado, a pessoa interessada deve dirigir-se ao Detran para ter atestada a incapacidade de conduzir veículos comuns, processo realizado por meio de perícia médica. Para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) especial para deficientes, o usuário passa por um processo muito semelhante ao dos demais cidadãos. A única diferença é que deverá ser submetido a uma junta médica que examina a extensão da deficiência e desenvoltura do candidato.

Depois disso e de posse de todos os documentos, o solicitante deve procurar uma clínica credenciada autorizada a realizar o exame médico e psicotécnico especial para deficientes. Logo após o candidato a motorista deverá passar por um Centro de Formação de Condutores (CFC) credenciado a realizar o exame teórico do Detran.

Segundo Edílson Lucas Morais, gerente do Núcleo de Saúde do Detran/Ceará, todas as deficiências físicas que impedem o condutor de dirigir um carro comum são admissíveis no processo da CNH especial. Entretanto há milhares de pessoas que não possuem qualquer deficiência, mas alegam seqüelas e problemas neurológicos no intuito de conseguir desconto de impostos, comenta Edílson.

Uma das reclamações de usuários que já possuem carros adaptados é que esse direito não é divulgado. O próprio gerente admite que a maioria das pessoas que procuram o serviço fica sabendo por meio de outras e se queixam que o órgão não tem muito interesse na divulgação, já que o site só disponibiliza informações superficiais a respeito do serviço. Edílson se retrata dizendo que o site do Detran dispõe especificamente de “informações administrativas”.

O candidato aprovado recebe uma observação na CNH declarando que tipo de adaptação ele precisa. O carro deve ser adaptado na fábrica e vem sob encomenda para o condutor. O usuário portador de CNH especial não pode conduzir veículos comuns, sob pena de sofrer multa em caso de flagrante. A carteira tem validade de dois anos e deve ser renovada após esse período. O gerente Edílson Morais disse ainda, que o único envolvimento do Detran com todo o processo de adaptação de carros é examiná-los para verificar se as adaptações estão de acordo com o que foi exigido pelo laudo.

O que é preciso

- Para requerer a CHN Especial é necessário ter 18 anos completos, ser alfabetizado, apresentar original e cópia do RG e CPF, cópia do comprovante de residência e uma foto 3x4 colorida com fundo branco;
- A única diferença em relação à obtenção da carteira de habilitação normal é uma junta de médicos que examina a extensão da deficiência e desenvoltura do candidato;
- Providenciados os documentos necessários, o solicitante deve procurar uma clínica credenciada autorizada a realizar o exame médico e psicotécnico especial para deficientes;
- De posse do resultado do exame médico, fazer a matrícula em um Centro de Formação de Condutores (CFC) credenciado e realizar o exame teórico no Detran;
- Para a realização do exame prático, procure uma auto-escola ou CFC que possua o veículo adaptado para o tipo de deficiência constatada;
- Nessa fase do processo, o candidato recebe orientação e treinamento adequados. Antes do exame prático, o carro é vistoriado por um médico perito que checa se as adaptações estão de acordo com a deficiência constatada. Na CHN Especial está especificada a adaptação necessária para que o deficiente dirija em segurança.

(Fonte: Detran São Paulo)

Metrofor pode ser solução para trânsito de Fortaleza


Texto: Diogenilson Aquino, Thaty Nascimento e Washington Forte

Fortaleza, juntamente com sua região metropolitana, tornou-se uma das grandes metrópoles da região Nordeste, e já não consegue suprir as necessidades de locomoção da população somente com a utilização de ônibus como meio de transporte urbano. Para resolver este problema, o Governo do Estado do Ceará pôs em prática a construção de uma linha de metrô sobreposta à atual linha ferroviária.

Para isso foi criada, em 1997, a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), uma empresa estatal. Em 1999 foi iniciada a obra de construção da linha metroviária. O projeto prevê a construção, primeiramente, da linha sul, que vem de Maracanaú até o centro de Fortaleza. E seu segundo estágio, há a construção da linha oeste, que vai do centro de Fortaleza até Caucaia.

De acordo com o assessor da presidência do Metrofor, Fernando Mota, que trabalha com o projeto desde 1999, já foram concluídas 52% das obras da linha sul, que deverá ser entregue à população até 2010. A justificativa dada por ele sobre a demora da construção era a falta de recursos financeiros garantidos, problema resolvido com a inclusão do projeto nos recursos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal.

“Até 2007 a maior dificuldade era financeira. Com a inclusão do Metrofor no PAC, essa dificuldade deixou de existir, pois temos certeza que o dinheiro virá. Os projetos incluídos no PAC têm recurso garantido, é o que a gente chama aqui de dinheiro carimbado, que ninguém vai gastar em outros projetos.” acrescenta o assessor.

O que pode garantir o sucesso do Metrofor é a parceria de integração entre metrô, ônibus e transporte alternativo. Os ônibus e as vans deverão ser os transportes coletores de passageiros para o metrô, ao invés de competir com o sistema metroviário. Funcionaria como o projeto Integração Temporal da Prefeitura de Fortaleza: com a passagem que o usuário pagou para utilizar o ônibus ou a van, ele terá acesso ao metrô. “Não adianta você ter o metrô correndo aqui e em paralelo um ônibus fazendo esse mesmo trajeto. Vai ser prejuízo para o ônibus e prejuízo para o metrô. A integração tem que ser física, tarifária, operacional, lógica e institucional” concluiu Fernando Mota.

O projeto do Metrofor prevê ainda a futura construção da linha leste, que irá do Centro até o Papicu e de lá até a Unifor. Caso Fortaleza torne-se uma das cidades sedes da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, a utilização de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) – um trem a diesel com capacidade menor que a dos que circulariam nas linhas principais – na linha de carga que vai da Parangaba até o Mucuripe, que atenderia à necessidade de um transporte rápido e confortável para levar passageiros dos hotéis da Praia de Iracema e do Aeroporto Internacional Pinto Martins até o Castelão
.
No entanto, conforme Fernando Mota, a construção da linha leste precisa de um investimento maior que o atual, já que boa parte da linha será subterrânea. E quanto à circulação de VLTs na linha de carga, já está em andamento o processo de licitação para a compra deles. Tudo depende da escolha de Fortaleza como uma das cidades sedes.

“Se Fortaleza for escolhida uma das cidades sede da Copa do Mundo, tenho certeza, que essas duas linhas estarão operando em 2014, porque existe um compromisso do Governo do Estado que está registrado no caderno de encargo, que planeja como a cidade vai estar em 2014, em todos os aspectos, transporte, rede hoteleira, aeroporto, enfim, infra-estrutura e evidentemente dentro dessa estrutura o metrô tem importância fundamental” declara ele.

Em março deste ano a tarifa do sistema de transporte ferroviário foi reduzida para um real. O que não deverá ocorrer quando o metrô estiver finalizado e integrado com os outros transportes urbanos. Segundo Fernando Mota, a tarifa tem que ser uma tarifa única, porém não deverá ter o valor atual dos trens nem dos ônibus: os usuários deverão ter um metrô com ar condicionado, rápido e confortável, logo com custos maiores.


Para os usuários do transporte ferroviário, que dependem cotidianamente do trem como condução, a espera pela melhoria de todos os carros é o consolo. A preferência pelo trem se dá devido à locomoção mais rápida em relação aos ônibus, contudo a viagem sobre os trilhos não é garantia de segurança, visto que ainda circulam vagões com janelas depredadas e portas que não se fecham.

Para o ex-diretor do Detran-CE – Departamento Estadual de Trânsito – e da antiga Ettusa – Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Fortaleza, Fernando Bezerra, Fortaleza e o Brasil estão atrasados em relação ao transporte urbano, tendo em vista que em outros países, como na Europa, o transporte coletivo sobre trilhos é eficiente até para levar passageiros de um país a outro. De acordo com ele, a solução para o transporte urbano de Fortaleza, como de qualquer metrópole, é um transporte rápido sobre trilhos. Mas que para garantir os benefícios é preciso que a integração e o trabalho paralelo entre os transportes coletivos ocorram de fato para poder transportar os 250 mil passageiros/dia previstos.

“O fundamental é a construção da linha leste, que o Governo Estadual deve priorizar, pois é no corredor e adjacências da Aldeota e Papicu que hoje circulam a maior parte da frota de carros e da população de Fortaleza” argumenta ele.

População de Fortaleza insatisfeita com situação do transporte público

Texto: Gabi Oliveira, Francisco José Barbosa e Sheryda Lopes

Fortaleza possui frota de 1.787 ônibus, que juntos transportam mais de 900 mil pessoas por dia de acordo com dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). Diariamente, porém, os usuários do sistema de transporte público enxergam as deficiências do sistema ao pegar um ônibus ou um transporte alternativo, as conhecidas topics.

Para o estudante Thiago Nogueira, que precisa pegar o ônibus Campus do Pici/Unifor para ir à Faculdade Integrada do Ceará, a frota ainda é insuficiente. “Há poucos ônibus para uma grande quantidade de pessoas. Enquanto a Etufor e os empresários não tomarem uma providência para organizar o trânsito de Fortaleza não tem jeito”, reclamou.

Em resposta às queixas de usuários, a Etufor disse que o problema da superlotação não pode ser resolvido apenas colocando mais ônibus nas ruas, pois a infra-estrutura da cidade não suportaria. Para esse fim, a Prefeitura de Fortaleza colocou recentemente em andamento o Programa Transfor, que prevê a construção de faixas exclusivas para circulação de ônibus e topics. Com isso pretende aumentar a velocidade média das viagens dos ônibus, que atualmente é de 15 Km/h.

Juntamente com o Programa Integração Temporal – que permite aos usuários utilizar até dois ônibus com uma única passagem – pretende-se otimizar o aumento da capacidade de embarque e desembarque de passageiros. Para verificar quais linhas de ônibus estão integradas, o usuário precisa se informar nos terminais ou acessar o site da Etufor.

A condição física dos ônibus é outro fator a ser levado em consideração, visto que disso depende a segurança e conforto dos passageiros. Segundo a lei municipal 7.136 de 1992, é dever da antiga Ettusa (atual Etufor) fiscalizar e fazer uma vistoria regular dos veículos nos itens relacionados: segurança, conforto e higiene, além dos itens mecânicos tais como o sistema de freios, suspensão, conservação do motor, pneus, macaco, extintor, dentre outros. Essas vistorias são organizadas de acordo com o tipo de transporte.

A vistoria dos ônibus é feita a cada três meses para carros com mais de cinco anos de vida, e a cada seis meses para os carros com menos de cinco anos. Já no caso das vans, a vistoria é realizada a cada seis meses. Os veículos devem exibir o selo verde, que significa que o transporte passou pela vistoria e foi aprovado.A Etufor, empresa responsável pela fiscalização, apreende e multa os ônibus e topics que circulam de forma irregular. No ano de 2007 o número de carros pequenos e topics apreendidos foi de 885. Até abril desse ano já foram apreendidos 129 veículos, incluindo ônibus.

Uma cena que se tornou comum é uma topic ser parada por um carro de fiscalização da Etufor, devido à quantidade excessiva de pessoas. Porém, no caso da superlotação dos ônibus, mas essa fiscalização não acontece. Segundo a assessora de imprensa da Etufor, Kerla Alencar, “a própria legislação só delimita a quantidade de pessoas nos transportes alternativos”, por isso é normal acontecer vistorias somente nas topics.

Quanto aos ônibus, o controle é feito apenas pelas cabines de controle. “Ao longo da viagem se ele vai superlotar não temos como controlar”, declara a assessora. Ao todo há apenas quatro cabines espalhadas pela cidade: na praça da Bandeira, praça da Estação, praça Coração de Jesus e avenida Humberto Monte.

Os riscos de um ônibus lotado são evidentes: há casos de pessoas que se machucam dentro dos coletivos por conta da grande lotação, ou mesmo por imprudência de alguns motoristas que desrespeitam os passageiros. “Hoje mesmo, assim que uma idosa subiu o primeiro degrau o motorista arrancou e ela quase caiu”, afirma Ana Paula, 23, vendedora que passa 5 horas por dia em ônibus. Para ela, o problema no comportamento de motoristas e cobradores vai além: “eles não tratam, e sim maltratam os passageiros. Mas acho que isso pode não ser culpa deles, pode ser por causa da pressão que sofrem das empresas”.

Talvez Ana Paula tenha razão. No mesmo terminal, o motorista Francisco Xavier, 29, diz que “trata muito bem os passageiros”, mas que se defende quando a recíproca não é verdadeira. Para ele as condições de trabalho não contribuem: “o salário é ruim, os horários estão péssimos. Engarrafamentos que atrasam o trânsito e a gente ainda tem que cumprir a rota no mesmo prazo. Aliás, em horários de pico eles fazem é diminuir. Agora que o movimento tá menor, eu tenho 40 minutos para fazer o percurso, mas às 19h eu só tinha 32 Qualquer dia se não tiver mais emprego pra ninguém e só sobrar de motorista, o cidadão vai chegar e dizer: quero não!”.

Alguns especialistas em trânsito consideram que a implantação de novos meios de transporte pode reduzir os problemas relativos à infra-estrutura do sistema de transporte urbano. A proposta mais conhecida é o Metrofor, projeto de metrô da Região Metropolitana de Fortaleza, que deverá ser entregue em 2010.

O trânsito do pedestre

Projetos da AMC investem na segurança da travessia de pessoas

Texto: Fernanda Marreiro, Rafael Mesquita, Herika Marinho, Mayara Bernardo, Samara Melo e Sarah Rahanny

Desde o ano de 2002 a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC) desenvolve o Programa Travessia Cidadã, que tem o objetivo de formar auxiliares no trânsito, que passam a garantir a segurança e reforçar a legislação específica.

O projeto desenvolve, por meio de treinamento, a formação de auxiliares no trabalho da AMC. Tal capacitação é ministrada pelos educadores da Divisão de Educação para a Cidadania de Trânsito (Dect) da Autarquia. O Travessia é dividido em dois segmentos: primeiro há a dedicação a aulas teóricas e depois são realizados treinamentos nas faixas de pedestres da cidade. Ao final, todo o aprendizado dos envolvidos é avaliado pela AMC. Com o desenvolvimento das competências como ética, cidadania e questões humanas relacionadas ao trânsito, o projeto destaca-se dentre as mais de 20 ações de educação para o transito desenvolvidos pela Dect/AMC.

Os aprendizes do curso são na maioria das vezes indivíduos que podem lidar diariamente com a condução de pedestres nas vias ou atuando em campos como o da educação infantil. Temos exemplos de porteiros, auxiliares de segurança, bombeiros e professores realizando os estudos da circulação de pedestres junto a AMC. Já são 33 turmas formadas pelo projeto, o que significa em torno de 600 pessoas capacitadas. Esses profissionais voltam para as instituições de que são oriundos para aplicar na prática cotidiana o que descobriram com o curso.

Algumas empresas apostam no projeto e fazem desses auxiliares verdadeiros multiplicadores da boa educação no trânsito. Jairson de Lima, funcionário do Colégio São Thomas de Aquino, na Serrinha, afirma que percebe a diferença no trafego diário que realiza de casa para trabalho, não só está mais atento, como fala que “os erros dos outros dão logo na vista”. Jairson pertenceu à 33ª turma, que se diplomou há cerca de um mês.

Sheila Fontenele, diretora da Divisão de Educação, explica que “a necessidade de amenizar os transtornos de trânsito fez ampliar o atendimento do Programa, engajando também as empresas como parcerias na construção de um trânsito menos violento e mais cidadão”. Ela adverte também que não adianta formar motoristas conscientes: os pedestres precisam entender demasiadamente como funciona o trânsito. Dessa forma, ambos os lados se beneficiam.


Outras ações da Divisão de Educação para a Cidadania no Trânsito

A AMC atendeu 151.799 pessoas em 2007 - 77% a mais que no ano anterior – no desenvolvimento de 15 dos 21 projetos da Divisão de Educação para a Cidadania no Trânsito (Dect) da AMC, são eles: Segurança em Foco, vídeo educativo, Escolas Municipais de Trânsito, Escola Aberta, Arte e Educação no Trânsito, Travessia Cidadã, AMC Vai à Escola e à Empresa, Círculo de Cultura, Oficinas com Professores das Escolas Municipais (Escola Aberta SME), Atravessando a Cidade, Sinalizando para a Vida, cursos e seminários, Adolescente Cidadão e grupo de estudos.

A divisão prevê até o fim do ano de 2008 dobrar o investimento nas ações educativas, apostando, sobretudo, na época de feriados do fim de ano, com promoções vinculadas a empresas do setor comercial de Fortaleza, principalmente lojas e shoppings.

Implantação de semáforos na avenida Aguanambi

Projeto tem como objetivo reduzir o número de congestionamentos e acidentes no local

Texto: Fernanda Marreiro, Rafael Mesquita, Herika Marinho, Mayara Bernardo, Samara Melo e Sarah Rahanny

A Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos de Cidadania de Fortaleza (AMC), está colocando em prática o projeto de engenharia de tráfego que pretende melhorar o trânsito na rotatória da Avenida Aguanambi.

O projeto, elaborado pela Divisão de Engenharia de Trânsito (Dieng) e pelo Controle de Tráfego em Área de Fortaleza (CTAFOR) da Autarquia, já havia sido concluído há mais de um ano e esperava apenas autorização do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) para o início das obras, que também envolvem alterações na estrutura viária do acesso da BR-116. A implantação de três semáforos veiculares nas chegadas sul e norte (Aguanambi) e leste (BR-116) da rotatória.

No projeto foram inclusas as seguintes ações: implantação de um semáforo para pedestres onde a rodovia tangencia a chegada leste da rotatória (BR 116); Correções nas vias de chegada à rotatória, com obras calçadas e canteiros; melhoria da drenagem de águas pluviais, constando da implantação de rede de micro-drenagem e ampliação das caixas de captação. Entre os objetivos, está eliminar as filas de veículos existentes nas aproximações norte e oeste da rotatória e reduzir a quantidade de colisões existentes na aproximação sul.

Antônia Xavier, de 40 anos, é garçonete em uma lanchonete próxima à rotatória e diz que, todos os dias, tem dificuldades para atravessá-la. "Chego a passar até 15 minutos no meio fio da calcada até conseguir atravessar a pista, e sempre correndo", conta. Ela reclama da alta velocidade dos veículos que transitam no local. "Um semáforo para pedestres ajudaria muito na travessia e seria importante para evitar acidentes", relata a garçonete.

Tecnologia em transportes urbanos de Fortaleza ajuda a prevenir assaltos

Texto: André Teixeira e Victor Hugo

A segurança sempre andou de mãos dadas com a tecnologia. Neste ano, as empresas de transportes urbanos em Fortaleza reforçaram essa idéia. Os resultados são mais conforto e segurança para passageiros e funcionários e menos gasto para as empresas.

Até o ano passado a segurança dos ônibus era feita com o uso de câmeras de segurança, o que gerava alto custo e pouca eficiência. Antes, elas apenas armazenavam dados, e no fim de cada dia, as imagens eram checadas. Agora, em 2008, começaram a ser instaladas câmeras que trabalham on-line, com imagens chegando à central de segurança em tempo real. A expectativa é que todos os veículos coletivos empresariados possuam esse equipamento até o fim do ano. Algumas empresas, como a Dragão do Mar, já o têm em todos os seus ônibus.

Em caso de assalto, a Polícia é instantaneamente avisada: “Isso facilitou muito nosso trabalho. A unidade mais próxima é alertada diretamente da central e essa agilidade nos ajuda a capturar o infrator em flagrante”, afirma o delegado do 3º Distrito Policial, Wagner Diniz. Isso ocorre porque o motorista de ônibus tem um botão de acesso fácil que aciona imprevistos para a central de segurança, mesmo que os suspeitos evitem as câmeras.

O delegado Wagner Diniz afirma ter impressão de que os assaltos a ônibus diminuíram. “Não vejo tantos boletins de ocorrência como antigamente”, ressalta ele, acrescentando: “normalmente são poucas quadrilhas que fazem o mesmo tipo de assalto várias vezes. Conseguimos prender algumas. As câmeras nos ajudam na identificação do infrator”. Os dados presentes no site do Sindionibus confirmam: as estatísticas de abril deste ano – quando a maioria das linhas já possuía câmeras, alarmes e GPS – comparadas às do ano passado, caíram em quase 30%.

Controle em tempo integral do itinerário

O GPS (Global System Position, Sistema de Posição Global) já está instalado em 20% dos ônibus de Fortaleza. Ele indica a posição precisa do transporte em tempo real. Dessa forma, em um eventual seqüestro e desvio de rota, a localização do transporte é muito fácil e ágil. Esse aparelho também informa se o motorista ultrapassou a velocidade adequada (60km por hora), se parou para receber ou despachar passageiros em locais indevidos ou mesmo se ele mantém o itinerário.

Um monitor parecido com um aparelho de TV é instalado no interior dos ônibus e exibe aos passageiros a exata localização em que está e quais os próximos pontos de parada previstos. A empresa Vega, que já instalou o GPS em 50% dos seus veículos, possui ainda um sistema de locução que narra as próximas paradas por meio dos alto-falantes, “Isso ajuda bastante as pessoas com deficiência visual”, explica o fiscal de ônibus da Vega, Jone Jéferson.

Mais tecnologia, menos gasto

Outra tecnologia que se apresenta muito útil é o computador de bordo, que tem agilizado o serviço de mecânicos e reduzido o gasto dos empresários. Ao fim de cada dia, ele exibe informações sobre problemas e sua devida localização no veículo, mais comuns nas portas, sistema de freio e motor. “Antigamente, o carro dava defeito e passava muito tempo parado, só pra encontrar o defeito era quase um dia todo, porque o ônibus é muito grande e complicado de trabalhar com ele”, diz Jéferson. Quem agradece são os mecânicos, que não são remunerados pelo tempo de serviço empregado para localizar o defeito.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Existe capacitação para os motoristas?


Texto: Suelen Viana, Cícero Fernandes e Lucas Mendes
Foto: Suelen Viana


São 1.646 ônibus que circulam na capital, distribuídas em 219 linhas, totalizando 971.140 passageiros diariamente, segundo dados da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Fortaleza - Etufor.

Numa cidade grande como Fortaleza, onde a maioria da população usufrui do transporte urbano para se locomover, é impossível não perceber os problemas que surgem no dia-a-dia. Já se tornou comum vermos nos meios de comunicação notícias enfatizando problemas de trânsito. Não raras são as que relatam a indignação de usuários de transporte coletivo com os motoristas. As maiores reclamações estão relacionadas a excesso de velocidade, lotação acima da recomendada pelas leis de trânsito e desrespeito com os passageiros, principalmente com os que têm restrição de mobilidade, como idosos, gestantes e pessoas portadoras de deficiência.

Francisca Mesca, 78, moradora do bairro Jockey Clube, disse que diariamente pega algum ônibus das linhas Paranjana, Henrique Jorge ou Lineu Machado, para se locomover até o SESI da Parangaba, onde pratica hidroginástica, e que muitos motoristas são grosseiros e não fazem a parada que fica em frente ao órgão, porque há grande concentração de idosos nesse ponto. “Às vezes passam três ônibus para um resolver parar”, diz ela, ressaltando que isso não deve ser generalizado porque a maioria dos motoristas são gentis e atenciosos. “Alguns são grosseiros porque as pessoas são grosseiras também”, pondera. Ela acredita que, se houvesse mais ônibus nas linhas, e um maior número de fiscais, esse problema poderia ser amenizado.

Na tentativa de solucionar problemas como esse citado por dona Francisca, algumas empresas de transporte urbano de Fortaleza, vêm procurando capacitar seus motoristas, oferecendo cursos nas áreas de direção defensiva e relações interpessoais. É o que nos relatam alguns motoristas abordados no terminal da Parangaba.

Charles, que há três anos é motorista da Viação Fortaleza, disse que a empresa é rigorosa no processo de admissão e que se preocupa muito com a qualidade de seus serviços e com o bem-estar dos usuários. Por isso, durante o processo seletivo, é exigido dos candidatos ao cargo de motorista dois anos de experiência comprovada na carteira. Além disso, é feito teste psicotécnico para avaliar a coordenação motora e psicológica, bem como de visão e audição. Ele nos relatou ainda que de três em três meses a empresa oferece cursos de capacitação entre seus funcionários, uma espécie de reciclagem, principalmente para ensinar a lidar com os idosos. “Durante os cursos realizamos testes com pesos nas pernas e óculos escuros para sentirmos na pele a dificuldade que os idosos têm de locomoção e também para enxergar o letreiro dos ônibus. Assim podemos compreendê-los melhor e sermos mais pacientes”, completa.

Charles afirma que a empresa tem sempre um psicólogo à disposição da categoria, caso o profissional sofra de algum trauma por conta de assaltos, acidentes e até mesmo em casos de stress do cotidiano. O motorista relata ter um relacionamento de respeito mútuo com os usuários. Sua dificuldade maior no exercício da profissão é o congestionamento do trânsito nos horários de picos. Mas acredita que se as avenidas forem alargadas e os terminais aumentados esse problema será solucionado ou, pelo menos, amenizado. Quanto ao trabalho de seus colegas de profissão, ele avalia: “Não vou dizer que é excelente, porque nem todas as empresas dão capacitação, mas no geral considero bom”, comenta.

Alguns motoristas se recusaram a falar sobre qualquer assunto relacionado ao treinamento que recebem das empresas. Os que aceitaram falar não permitiram que a entrevista fosse gravada. Antônio Paiva que há três anos é motorista da empresa Maraponga, disse que a única exigência quando foi contratado é que tivesse no mínimo dois anos de experiência. Fora isso, fez somente teste de rua e nada mais. Nunca recebeu por parte da empresa nenhum tipo de curso. Mas disse que isso em nada atrapalha o seu ótimo relacionamento com os passageiros e nem seu desempenho profissional.

Marcus Thadeu, analista de recursos humanos da Via Metro, informou que para um motorista ser integrado no quadro de funcionários da empresa a exigência é de uma experiência comprovada de seis meses e uma formação mínima de escolaridade que corresponda ao ensino fundamental completo. No processo seletivo, os candidatos passam por testes psicotécnicos para averiguação de coordenação motora e também fazem um outro teste, intitulado MPK, para avaliar o nível de stress do profissional. Depois disso, o motorista realiza testes internos e externos de direção, para comprovar sua aptidão. E ainda, passa por um estágio de uma semana onde é acompanhando e avaliado pelo orientador de tráfego.

O analista fez questão de enfatizar que a Via Metro tem uma política de valorização dos funcionários, na qual "todos são parte integrante de uma família, cuja preocupação maior é o bem-estar de cada um, inclusive de seus usuários". Segundo ele, isso "é o grande diferencial da empresa". De acordo com o analista, a empresa está sempre oferecendo cursos de reciclagem para seus motoristas com o objetivo de aperfeiçoar seus serviços. Há cursos realizados em parceria com o Detran que vão desde legislação de trânsito a noções de primeiros socorros. Outros são ofertados pela própria empresa, como o de relações humanas, em que o profissional aprende a lidar com os mais diversos tipos de passageiros.

Thadeu disse ainda que a empresa mantém uma escolinha de formação de motoristas, que tem como prioridade desenvolver habilidades e o potencial dos profissionais. Ele cita até uma frase utilizada pelo time do Flamengo (RJ), há alguns anos, que dizia: “craque a gente faz em casa”, ele a modificou para, “craque a gente faz aqui dentro”, no intuito de afirmar o quanto a empresa incentiva e investe nos funcionários. Segundo ele, a Via Metro cobre 50% dos gastos que um trocador que já tem habilitação B gastaria para trocar por habilitação D. Além disso, o trocador ficará na escolinha durante três a quatro meses. Nesse período, passa por testes que medem o stress e por várias etapas de avaliação psicológica, além de assistir às aulas de direção defensiva, relações humanas, noções de manutenção de veículos.

Thadeu nos relatou também que em casos de assaltos, os motoristas e trocadores são orientados a não reagirem. Caso aconteça um episódio desse tipo, a empresa sempre chama os funcionários para uma conversa e se perceber que os mesmos ficaram com algum trauma, ela os encaminha ao psicólogo. É importante ressaltar que na semana anterior à produção desta reportagem, conversamos com um trocador da empresa Via Metro que faz a linha “Novo Maracanaú”, nos deu as mesmas informações dadas pelo analista Marcus Thadeu.

Rogério Barbosa, Administrador da empresa São José de Ribamar nos informou por telefone que não há uma capacitação aprofundada para os motoristas. Para preencher o cargo, o candidato já deve ter passado pelo exame da Etufor e do Departamento Estadual de Trânsito - Detran, além de possuir no mínimo três anos de experiência. Finalizada a análise curricular, os selecionados passam pelo teste de equilíbrio psicológico, o qual é efetuado pela própria empresa. A avaliação é realizada nas ruas, com o candidato na direção do veículo enquanto um instrutor o observa. Segundo o administrador, o motorista recebe ainda instruções de como lidar com a equipe de trabalho com o público e com o veículo.

As empresas Via Urbana e Via Máxima também foram procuradas pela nossa equipe, porém não disponibilizaram alguém para a entrevista. A representante do setor de recursos humanos da Via Urbana, Camila Sarkis, justificou por e-mail que não tiveram como se programarem para nos receber, devido ao "prazo curto" que demos e pela ausência de um dos funcionários responsáveis pelo treinamento de motoristas que está de férias. Já a outra empresa disse que não havia nenhum horário disponível na agenda.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Estréia

Saúdo a todos os leitores deste blog que a partir deste segundo semestre de 2008 servirá como espaço na Web para leitura, troca de informações e para mostrar a produção de meus alunos da disciplina de Técnicas de Apuração, Entrevista e Reportagem II da Faculdade Integrada do Ceará (FIC).

Na estréia, disponibilizarei as reportagens sobre trânsito e transporte urbano dos alunos da turma 2008.1, que fizeram parte de uma das avaliações da disciplina.

De resto, deixo claro que serão bem vindos os comentários, sugestões e críticas de todos.

Um abraço