domingo, 22 de março de 2009

Iniciativa de responsabilidade promove inclusão social

Texto: Ederclinger Reis e Germana Cleia

Nos últimos anos, são cada vez mais presentes organizações governamentais, empresariais e sociais atuarem em rede. Isso se deve a comparações de que um setor não pode viver isoladamente. A exemplo disso, temos iniciativas de responsabilidade socioambiental, que promove a inclusão na comunidade local, como ações de conhecimento, esportivas e cooperação.

Inicialmente, cabe ao Estado o papel da responsabilidade objetiva na econômica e na política. Porém, as empresas influem numa escalada crescente para defenderem a idéia do papel social da empresa. Essa situação só é possível graças às iniciativas de projetos vindos das próprias comunidades ou organizações sociais. Assim, a empresa passa a se vê como componente da sociedade na possibilidade de melhorar realidades negativas existentes. O resultado é a instituição se tornar uma espécie de empresa-cidadã, que intermedia ações entre o Estado e a sociedade. A preocupação maior é com a qualidade de vida e o retorno econômico. A cultura de paz é conseqüência.

Cidadão de Futuro, de iniciativa do BNB Clube de Fortaleza, é um exemplo de empresa-cidadã por meio do Projeto de Responsabilidade Social Empresarial, mas que tem parcerias com a Prefeitura de Fortaleza, o que mostra a rede entre setores da sociedade. Também está nesse circuito o Banco do Nordeste e a Associação Brasileira de Educação Familiar e Social – ABEFS. Desde junho de 2006, o projeto executa várias ações que buscam atender o plano de ação elaborado pelas entidades que formam a parceria operacional.

Para Danilo Lopes, diretor cultural do BNB Clube, “o projeto oportuniza o estímulo da melhoria da comunidade através da participação em atividades sócio-educativas, possibilitando a inclusão social”. Danilo também fala da cultura de paz através do projeto. “Na medida em que os protagonistas da comunidade se envolvem no projeto, há uma transformação social e os índices de problemas diminuem. Aí a paz nas comunidades se concretiza verdadeiramente”, complementa.

As atividades do Projeto buscam fundamentar trabalhos sócio-educativos, esportivos, culturais e de iniciação profissional, possibilitando aos participantes novas alternativas de inclusão social e de exercício da cidadania, utilizando como base física às instalações da Sede Praia do BNB Clube de Fortaleza (Caça e Pesca) e do Centro de Apoio Familiar Maria Adelaide e da ABEFS (Cocos).

Mauro Oliveira, diretor do Cefet-CE Pirambu disse que "a verdadeira inclusão, nesse país, só se dará quando nós tivermos mecanismos que possibilitem os jovens se apropriarem do seu entorno social."

A população da área atendida está em torno de 10.568 habitantes (IBGE, 2000), sendo 4.494 (42,5%) com menos de 18 anos. Os moradores da área de abrangência do Projeto vivem num contexto onde muitas vezes não se verifica condições mínimas de higiene, saneamento e atendimento médico suficiente para a demanda. O morador Francisco das Chagas, 55 anos, disse que “a comunidade avançou bastante, mas ainda há muito o que fazer porque as pessoas são muito carentes e o papel é de todos”.

A realidade educacional da área apresenta deficiências em relação ao direito à educação, verificando que a população não possui elementos confiáveis sobre o diagnóstico de sua realidade, principalmente no que diz respeito a este aspecto.

A via-crucis do ecumenismo

A pretensão revolucionária da união entre igrejas em busca de tolerância e paz gera polêmica, preconceito e resistência no meio religioso

Texto: Regina Duarte, Suzy Valério e Gabriela Bezerra

Ecumenismo é o processo de busca da unidade. O termo que surgiu na Conferência Missionária Mundial, em Edimburgo, em 1910, provém da palavra grega "oikos", que significa casa, querendo indicar "toda a terra habitada". Num sentido mais restrito, esse termo é colocado quando se fala nos esforços em favor da unidade entre igrejas cristãs. Num sentido amplo, também chamado de macro-ecumenismo, pode demonstrar a busca da unidade entre as religiões ou mesmo, da humanidade.

No dicionário, ecumenismo é definido como o movimento que visa à unificação das igrejas cristãs, que engloba a católica, a ortodoxa e a protestante. A definição da Igreja diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. Atualmente, o termo tem um significado estritamente religioso, apesar do seu contexto histórico abranger os aspectos geográfico, cultural e político.

No Brasil e no mundo existem vários organismos de natureza ecumênica. O mais importante, no Brasil, é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC, fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília e cujo símbolo é um barco. Seus membros são: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil. No Ceará, o movimento ecumênico se torna concreto através do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Ceará, o CONOERCE, presidido pelo pastor da Igreja Bastista, Samuel de Aguiar Munguba Jr.

O presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Ceará, o CONOERCE, Samuel Munguba Junior, falou com a nossa reportagem sobre seu trabalho.

O ecumenismo é um tema muito polêmico. O que é o ecumenismo na sua visão?
O ecumenismo na minha ótica é o diálogo religioso entre as religiões, não a junção de religiões, é cada Igreja, cada um que pertence a uma Igreja, tem o respeito, o carinho, o amor. Você não simplesmente isola uma pessoa, diminui uma pessoa por aquela prática daquela religião. Eu tenho amigos que são macumbeiros, espíritas, católicos e os da Igreja Batista, que é a minha religião. Você não pode rotular uma pessoa pela religião que ela professa. Eu acho que isso é uma questão de cultura de paz.

Então, qual a sua visão sobre cultura de paz do ponto de vista do ecumenismo?
Eu acredito que o nome cultura de paz é bem apropriado porque é o seguinte: isso não é uma ação isolada, você não pode ter apenas uma ação de uma Igreja, de uma entidade, de uma universidade, mas deve ser uma cultura, ou seja, cultura é aquilo que é próprio de um povo. Você tem que criar mecanismos para que as pessoas possam começar a pensar dessa forma. Por exemplo: se você não joga lixo na rua é porque você aprendeu, essa é a cultura daquele povo. Isso deve acontecer com a paz. Não é simplesmente a ausência de guerra, é o envolvimento de toda sociedade com atos claros de paz. Assim como o amor não é sentimento, o amor é prática, a paz também não é apenas um rótulo que você coloca, mas é uma vivência.

De que forma o ecumenismo pode contribuir para a cultura de paz?
A minha maneira de ver é que Deus é grande demais e nós não compreendemos toda a dimensão de Deus. Eu consigo compreender uma parte disso, então, eu vou tentando compreender mais. O importante é você ser humilde o suficiente pra dizer: “Eu entendo dessa forma, mas ela não é a única verdade”.

Algo aconteceu em sua vida para que o senhor se engajasse nessa filosofia de cultura de paz?

Eu também sou cantor. A venda dos meus CD’s rendia uma média de R$ 300.000 por ano. Quando CONOERCE, no outro dia, cortaram meus CD’s das rádios, não me chamaram mais pra nada. Eu fazia show no (Estádio) Castelão, show no (Estádio) Presidente Vargas e em grandes locais da cidade. No outro dia, eu não existia mais para a comunidade evangélica. Foi um preço muito alto que paguei, mas faço isso porque acredito que alguém precisava fazer.

Dentre várias outras atividades, além de ser líder de uma igreja evangélica, o senhor é presidente do CONOERCE, o movimento ecumênico do Ceará. Como funciona esse movimento?
Nós ficamos conhecidos na área do ecumenismo porque ela aglutina padres, pastores, líderes religiosos e nós aprendemos a convivência do diferente juntos. Aliás, tivemos que aprender por causa da lei. A lei diretriz base de educação. Ela é a teoria da existência do CONOERCE, mas nós tínhamos de aprender na prática, ou seja, foi o jeito, não é porque nós somos bonzinhos, não é porque a Igreja Católica é maravilhosa ou a Igreja Batista... Não! É porque é lei. A lei disse que precisava existir e nós fomos aprendendo no dia-a-dia com essa convivência.

Há muita polêmica envolvendo o movimento ecumênico. O senhor é muito criticado?
Eu acho que já fui bem mais, mas a gente tem que aprender com as diferenças. Eu aprendi uma coisa: o diferente não é, necessariamente, meu inimigo, ele é meu professor, ele me ensina o que eu não vivo, aquilo que eu não sei, que não compreendo. O diferente é importantíssimo pra mim.

A gente observa que o fanatismo é motivo de guerras históricas. Como o ecumenismo pode contribuir para que haja uma mudança em favor da cultura de paz?
O fanatismo é utilizado sempre através do poder e das igrejas pra conquistar mais, pra dominar, pra manipular. Na nossa Igreja o que eu mais trabalho é a questão da conscientização, ou seja, eu quero que as pessoas pensem e é muito difícil você levar as pessoas a pensar, porque as pessoas que mande nela, alguém que domine, alguém que decida por ela, porque se der certo o mérito é da pessoa, mas se der errado, ela tem a quem culpar. O fanatismo vai por aí, alguém domina a sua vida, que diz que você não vai para o céu se faz aquilo, que, se fizer, perde a salvação. A Igreja Batista, no meu caso, é muito aberta, ela faz você pensar sobre a vida. Agora, eu fico preocupado com o seguinte: se nós observarmos as grandes guerras, sempre há um fundo religioso. Nós precisamos trabalhar para que a religião liberte. A religião mal vivida aprisiona mais do que liberta.

De que forma cada indivíduo poderia contribuir para a paz no mundo?
A mudança começa em cada um. No meu caso, eu sou pai, então, como eu trato meus filhos? Como eu trato a minha esposa? Eu acho que o grande desafio de um Pastor é que quando eu estou pregando, eu tenho a minha mulher e meu filho na primeira fila olhando pra mim, medindo exatamente quem eu sou, qual a integridade da minha vida. E ser íntegro é ser a mesma pessoa sempre. Eu acho que a cultura de paz começa por aí, quando eu sou íntegro. Ser a mesma pessoa e investir na sua vida, no seu relacionamento. Cultura de paz começa em casa.

A paz pela comunicação

Texto: Antônio Júlio, Serena Morais e Monika Maud

Detentos julgam, condenam e executam no interior do IPPS. É essa a principal manchete veiculada pelo jornal Diário do Nordeste do dia 17 de novembro de 2008. E como essa, muitas outras fazem parte do cotidiano dos milhares de leitores, ouvintes e telespectadores da nossa imprensa. A tese de que a imprensa está cada vez mais sensacionalista vai se confirmando. “Espreme que sai sangue”, livro do jornalista Danilo Angrimani expressa uma grande verdade.

Inquietos com a veiculação de tanta violência pelos próprios meios de comunicação, um grupo de amigos, formado por empresários e jornalistas e outras pessoas de diversos segmentos da sociedade, começou a pensar uma forma de participação que pudesse amenizar tamanha proliferação de má noticia. Assim nasceu a Agência da Boa Noticia – ABN, a partir da necessidade de paz e com a vontade de dar e receber boas notícias.

Para o professor e jornalista Francisco Souto Paulino, a missão da ABN é estimular a cultura de paz através da comunicação. A paz entrando nos lares, no som dos ônibus ou do carro, na mente e no coração de cada um de nós. Esse é o fruto “saboroso” que se pode colher. Ainda segundo Souto, a comunicação e todos os que trabalham com ela, são realmente o solo fértil que a Agência da Boa Notícia buscava.

“Talvez aquele grupo de amigos fizesse um movimento, uma campanha ou um conjunto de ações temporárias, mas não seria o suficiente. Quantas campanhas têm sido feitas em prol do meio ambiente, da ética, disso e daquilo, e esquecemos o assunto no fim do projeto? A paz é uma conquista diária, permanente, que cresce com água, sol e adubo”, afirma Souto.

A ABN é hoje um instrumento sensibilizador dos meios e dos profissionais de comunicação, captando, elaborando e veiculando as notícias: não qualquer notícia, mas boas notícias. Souto Paulino define como boa notícia àquela que tem função social, que harmoniza a sociedade.

Na mesma linha de pensamento da ABN a Agência de Notícia Esperança - AnotE se define como um espaço onde as pessoas podem denunciar sem medo tudo aquilo que é contrário à vida. A Anote acredita que tornar públicos os trabalhos de promoção dos Direitos Humanos, na maioria das vezes omitidos pela grande mídia, contribui para despertar o interesse e a necessidade de participação das pessoas. Por isso o seu público alvo é aquele que o modelo de desenvolvimento segregador teima em chamar erroneamente de minorias.

Desde a sua criação, em junho de 1996, a AnotE carrega consigo o sonho e a luta de um mundo sem exclusão social, sem violência, feliz para todos. Daí o porquê de no seu nome trazer a Esperança.

Ana Lourdes, articuladora das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs da Arquidiocese de Fortaleza, considera a AnotE como sendo um espaço de anúncio de boas notícias produzidas pelas comunidades, espaço onde se pode denunciar sem medo tudo aquilo que é contrário à vida.

Para atingir seus objetivos a AnotE e a ABN contam com pessoas e movimentos da caminhada, parceiros e parceiras que acreditam num outro mundo possível, dando suporte para que as boas notícias possam chegar como sinal de esperança, através dos meios de comunicação. Confira algumas das boas notícias nos sites da Agência da Boa Notícia e da AnotE

Cultura de paz na sociedade contemporânea

Texto: Fernanda Gomes, Renata Gomes e Vanessa Schramm
O termo cultura de paz serve para designar um conjunto ações que promovem, na sociedade, uma mudança na forma de relacionamento entre os indivíduos. A cultura de paz é imprescindível para pensarmos na tolerância, no relativismo cultural, no respeito à diversidade e, sobretudo, na democracia.

Carla Michele Andrade de Quaresma que é bacharel em Ciências Sociais, mestre em sociologia, doutoranda em comunicação e cultura contemporânea na Universidade Federal da Bahia e professora das disciplinas de metodologia científica e sociologia na Faculdade integrada do Ceará nos forneceu algumas informações a respeito do assunto. Para a professora, os indivíduos estão fechados ao diálogo uns com os outros. “Nós somos pouco abertos ao diálogo, à conversação. E a partir de tudo isso surgem intolerâncias e o desrespeito aos direitos do outro, o desrespeito ao direito à diversidade. Então, devido a essa incoerência é que praticamos, na maioria das vezes, aquilo que se contrapõe à cultura de paz”, disse a socióloga.

O diálogo pode, também, contribuir para a cultura de paz. A relação dialógica ajuda os indivíduos a entender o desconhecido, ajuda-os a aceitar o diferente.
As instituições de ensino podem oferecer suporte na formação do indivíduo desde cedo com a conversação, educação pela diferença e respeito pelo próximo. É necessário que as instituições de ensino tenham consciência de que precisam ensinar a cidadania e não apenas níveis técnicos. As instituições de ensino têm que se conscientizar de que os indivíduos não estão preparados adequadamente para a sociedade.

Para Carla, quando os indivíduos se preparam para o mercado de trabalho, eles se preparam para desenvolver alguma competência específica, mas não se preparam para a vida social e para a relação dialógica. “As instituições de ensino têm que exercer esse papel fundamental de ensinar a cidadania e ensinar aos indivíduos a tolerância e o respeito ao outro”, ponderou a socióloga.

Atualmente, percebemos uma desagregação familiar na sociedade. As famílias contribuem para a formação dos conceitos do indivíduo. Uma família má estruturada provavelmente originará indivíduos desinformados e propícios á violência porque não tiveram o exemplo de respeito e amor que deve existir numa relação familiar. Ter um bom exemplo a seguir é necessário para um indivíduo que está formando seu caráter e valores para enfrentar a sociedade futuramente.

Para Carla, a formação íntegra das crianças e adolescentes deve ser um trabalho compartilhado entre família e escola. “Tem que ser uma educação em conjunto: família, escola e as demais instituições sociais. Todas as instituições de ensino devem atuar no sentido de promover a cultura de paz”, acredita a socióloga Carla.

A jornalista, doutoranda de assessoria de comunicação e bacharel em Direito Ângela Marinho, concorda com as idéias da socióloga e acrescentou aspectos relevantes para a formação da cultura de paz. Para ela, as crianças têm que ser educadas desde cedo. “Se você educar seu filho respeitando o direito do outro desde criança, então começa uma cultura de paz na infância”, foi o que Ângela informou.

A cultura de paz na comunicação
Os meios de comunicação veiculam a violência porque existe audiência para isso. A mídia pode influenciar a sociedade que não está preparada para o consumo das idéias vendidas nos meios de comunicação. Os programas e jogos com conteúdo violento podem incentivar à violência.

Segundo Ângela Marinho, os jornalistas, empresários e publicitários podem contribuir para a cultura de paz a partir da criação de textos que apenas informem o público sem confrontar e sem fazer apologia à violência. “Eu acho que você pode permitir a informação, respeitando a privacidade e integridade alheia, entretanto isso não é feito com freqüência”, destacou a jornalista.

“Todos nós devemos fomentar o respeito ao outro, à dignidade humana e às instituições democráticas. Toda a sociedade tem que se mobilizar em prol dessa causa porque é um trabalho em conjunto. Nós estamos numa situação caótica e termos que nos alertar”, disse Carla Michele.