sexta-feira, 25 de julho de 2008

População de Fortaleza insatisfeita com situação do transporte público

Texto: Gabi Oliveira, Francisco José Barbosa e Sheryda Lopes

Fortaleza possui frota de 1.787 ônibus, que juntos transportam mais de 900 mil pessoas por dia de acordo com dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). Diariamente, porém, os usuários do sistema de transporte público enxergam as deficiências do sistema ao pegar um ônibus ou um transporte alternativo, as conhecidas topics.

Para o estudante Thiago Nogueira, que precisa pegar o ônibus Campus do Pici/Unifor para ir à Faculdade Integrada do Ceará, a frota ainda é insuficiente. “Há poucos ônibus para uma grande quantidade de pessoas. Enquanto a Etufor e os empresários não tomarem uma providência para organizar o trânsito de Fortaleza não tem jeito”, reclamou.

Em resposta às queixas de usuários, a Etufor disse que o problema da superlotação não pode ser resolvido apenas colocando mais ônibus nas ruas, pois a infra-estrutura da cidade não suportaria. Para esse fim, a Prefeitura de Fortaleza colocou recentemente em andamento o Programa Transfor, que prevê a construção de faixas exclusivas para circulação de ônibus e topics. Com isso pretende aumentar a velocidade média das viagens dos ônibus, que atualmente é de 15 Km/h.

Juntamente com o Programa Integração Temporal – que permite aos usuários utilizar até dois ônibus com uma única passagem – pretende-se otimizar o aumento da capacidade de embarque e desembarque de passageiros. Para verificar quais linhas de ônibus estão integradas, o usuário precisa se informar nos terminais ou acessar o site da Etufor.

A condição física dos ônibus é outro fator a ser levado em consideração, visto que disso depende a segurança e conforto dos passageiros. Segundo a lei municipal 7.136 de 1992, é dever da antiga Ettusa (atual Etufor) fiscalizar e fazer uma vistoria regular dos veículos nos itens relacionados: segurança, conforto e higiene, além dos itens mecânicos tais como o sistema de freios, suspensão, conservação do motor, pneus, macaco, extintor, dentre outros. Essas vistorias são organizadas de acordo com o tipo de transporte.

A vistoria dos ônibus é feita a cada três meses para carros com mais de cinco anos de vida, e a cada seis meses para os carros com menos de cinco anos. Já no caso das vans, a vistoria é realizada a cada seis meses. Os veículos devem exibir o selo verde, que significa que o transporte passou pela vistoria e foi aprovado.A Etufor, empresa responsável pela fiscalização, apreende e multa os ônibus e topics que circulam de forma irregular. No ano de 2007 o número de carros pequenos e topics apreendidos foi de 885. Até abril desse ano já foram apreendidos 129 veículos, incluindo ônibus.

Uma cena que se tornou comum é uma topic ser parada por um carro de fiscalização da Etufor, devido à quantidade excessiva de pessoas. Porém, no caso da superlotação dos ônibus, mas essa fiscalização não acontece. Segundo a assessora de imprensa da Etufor, Kerla Alencar, “a própria legislação só delimita a quantidade de pessoas nos transportes alternativos”, por isso é normal acontecer vistorias somente nas topics.

Quanto aos ônibus, o controle é feito apenas pelas cabines de controle. “Ao longo da viagem se ele vai superlotar não temos como controlar”, declara a assessora. Ao todo há apenas quatro cabines espalhadas pela cidade: na praça da Bandeira, praça da Estação, praça Coração de Jesus e avenida Humberto Monte.

Os riscos de um ônibus lotado são evidentes: há casos de pessoas que se machucam dentro dos coletivos por conta da grande lotação, ou mesmo por imprudência de alguns motoristas que desrespeitam os passageiros. “Hoje mesmo, assim que uma idosa subiu o primeiro degrau o motorista arrancou e ela quase caiu”, afirma Ana Paula, 23, vendedora que passa 5 horas por dia em ônibus. Para ela, o problema no comportamento de motoristas e cobradores vai além: “eles não tratam, e sim maltratam os passageiros. Mas acho que isso pode não ser culpa deles, pode ser por causa da pressão que sofrem das empresas”.

Talvez Ana Paula tenha razão. No mesmo terminal, o motorista Francisco Xavier, 29, diz que “trata muito bem os passageiros”, mas que se defende quando a recíproca não é verdadeira. Para ele as condições de trabalho não contribuem: “o salário é ruim, os horários estão péssimos. Engarrafamentos que atrasam o trânsito e a gente ainda tem que cumprir a rota no mesmo prazo. Aliás, em horários de pico eles fazem é diminuir. Agora que o movimento tá menor, eu tenho 40 minutos para fazer o percurso, mas às 19h eu só tinha 32 Qualquer dia se não tiver mais emprego pra ninguém e só sobrar de motorista, o cidadão vai chegar e dizer: quero não!”.

Alguns especialistas em trânsito consideram que a implantação de novos meios de transporte pode reduzir os problemas relativos à infra-estrutura do sistema de transporte urbano. A proposta mais conhecida é o Metrofor, projeto de metrô da Região Metropolitana de Fortaleza, que deverá ser entregue em 2010.

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