segunda-feira, 20 de abril de 2009

Doação de medula: dúvidas ou medo?


Alberto Gurgel, Fernanda Riomar Paz, Lyegina Martins, Ana Patrícia, Aline de Castro

O Hemoce (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará) conta com um departamento específico para o cadastramento de doadores de medula óssea desde o ano de 2001. Durante todo esse tempo de funcionamento grandes feitos foram realizados pela equipe e grandes preconceitos foram desmistificados.

A Assistente Social Adalise Maia, está a frente do setor de doação de medula óssea, onde vem prestando um excelente trabalho de apoio e esclarecimento sobre a doação de medula, aos familiares de pacientes que necessitam do transplante.

Segundo a entrevistada, atualmente grandes empresas estão se agregando a projetos de doadores voluntários, onde tem como principal objetivo esclarecer aos funcionários as necessidades e dificuldades enfrentadas pelos pacientes que necessitam desta doação e assim mobilizando através da sensibilização os funcionários e desta forma cadastrando-se no REDOMA (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). A ajuda destes empreendedores agiliza o processo de caracterização de perfis de medula óssea da população brasileira, que devido a sua miscigenação torna mais difícil a captação de todos os perfis.

Quem necessita dessa doação?
Adalise Maia - Pessoas que têm doenças que comprometem a produção de sangue pela medula, como leucemias e aplasia de medula óssea, e crianças com algumas doenças genéticas congênitas.

Quem pode fazer a doação?
Adalise Maia - Pessoas que têm entre 18 e 55 anos de idade e estão bem de saúde .Não pode ter tido câncer ou doença sexualmente transmissível.

Como e onde é feito o cadastro?
Adalise Maia - A pessoa se encaminha ao Hemocentro da sua cidade, portando a sua RG e CPF e ao chegar ao local, fará o cadastro.Em seguida será colhido uma amostra de sangue (10 ml) para teste de compatibilidade (HLA). Este teste é feito no Rio de Janeiro pois nosso estado não tem um laboratório de HLA, existe um projeto para a UFC realizar a construção de um. Todo o custeio desse processo é do governo que paga esse envio das amostras. Devido a essa falta de um laboratório de HLA viabiliza uma serie de problemas como o custo de manutenção do projeto, mas apesar de tudo o processo construiu uma base forte, que em sua maioria foi devido aos incentivos das famílias de pacientes.

O governo não entra nesta como parceiro?
Adalise Maia - Nosso maior parceiro hoje é a família dos pacientes que movem todos os meios de comunicação para conseguir um doador compatível.

Como é a compatibilidade de doadores?
Adalise Maia - 25% dos pacientes têm possibilidade de encontrar doador compatível entre os irmãos. caso não seja encontrado entre familiares, procura-se um doador compatível inscrito no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).

Por que se registar?
Adalise Maia - Para o paciente, você pode ser a única possibilidade de cura. Assim, quanto mais doadores registrados, maior chance de encontrar um doador compatível. O Brasil por ser um país de grande mistura genética, o registro é mais importante ainda pois a grande variedade de raça influencia na hora da compatibilidade. O banco de Nova York, já possui por exemplo grande número de cadastro de brancos e agora está precisando de apaches pois estes tem um número reduzido de cadastro.

Como se encontra a situação deste cadastro?
Adalise Maia - Nos anos de 2001 à 2007 estavamos com uma média de 1900 cadastros e no ano de 2007 - 2008 tivemos um crescimento consideravél para 25000, onde a família de um paciente “Mateus Aquino, de 4 anos” mobilizou toda a sociedade através de rádio, tv, msn, orkut e etc. , assim conscientizando e sensibilizando a sociedade em geral. A nossa grande parceira e propulsora de conquista de objetivos é a família.

Quais os procedimentos com o doador compatível?
Adalise Maia - Se houver compatibilidade, o doador é convocado para um exame de sangue mais detalhado. O doador será avaliado por um clínico para verificar seu bom estado de saúde.

Qual o procedimento mais utilizado no Ceará e onde é realizado?
Adalise Maia - Atualmente o Ceará não possui nenhum hospital com estrutura para captação e transplante de medula óssea.Existe um projeto do HGF se tornar um hospital referência para este caso. Hoje temos leitos de tratamento autólogo ( tratamento ao qual a medula é retirada do próprio paciente e em sua grande maioria resulta em casos positivos). O nosso estado já realizou 5 transplantes e todos bem sucedidos.

Qual a principal dificuldade encontrada pela equipe do HEMOCE para o cadastro?
Adalise Maia - Geralmente os mitos criados com o passar dos tempos, onde as pessoas acham que vão ficar fracas, que caso precisem doar para um familiar não vai poder pois ja fez uma vez, que podem ficar paralíticas por conta da anestesia geral e também a falta de incentivos, pois ao contrário do doador de sangue não existe nenhuma lei que gratifique o doador de medula.

Como a medula óssea é removida?
Adalise Maia - Existem duas formas, a punção direta, que consiste na coleta realizada com agulha, na região da bacia. Retira-se uma quantidade de medula equivalente a uma bolsa de sangue. Para que não haja dor, é realizada anestesia e o procedimento dura 40 minutos. O doador fica em observação por um dia e após esse período pode retornar a suas atividades normalmente, não restando nenhuma cicatriz, apenas a marca de 3 a 5 punções de agulha. Já na segunda forma, temos a máquina de aférese, o doador recebe um medicamento por 5 dias que estimula a proliferação das células-mãe, que migram da medula para as veias e são coletadas por acesso de veias periféricas. O processo de coleta por aférese dura em média 4 horas, até que se obtenha o número adequado de células. O único efeito colateral do medicamento é que ele pode causar dor no corpo, como uma gripe.

Como os pacientes recebem a medula?
Adalise Maia - Depois de um tratamento que destrói a própria medula, o paciente recebe as células doadas por meio de transfusão. Em duas semanas, a medula transplantada já estará produzindo novas células.

Posso doar mais de uma vez?
Adalise Maia - Dificilmente haverá mais de uma pessoa compatível com o doador, no entanto, se for necessário, pode haver mais de uma doação. A medula do doador se regenera em aproximadamente 15 dias.

De soldado a coronel

Jucélia de Castro, Gleydson Silva e Sara Pontes

Nascido em Fortaleza no dia 05 de Maio de 1956, filho de Osvaldo Gomes da Silva e Maria Stela da Silva. Francisco Tarcisio Começou sua vida estudantil no Liceu do Ceará, e em 1978 ingressou na policia Militar, sonho de infância. Policial exemplar, sempre se dedicou com muito afinco a todas as funções que lhe foram delegadas. Para desempenhar suas funções de maneira correta, Coronel Tarcisio, procurou a cada dia aperfeiçoar seus conhecidos, acumulando assim diversos cursos na sua área. Mostrando que todos os seus esforços não foram em vão, em 2000 assumiu o comando do 3º Batalhão da Policia Militar de Sobral, tendo desenvolvido nesse município um excelente trabalho, o que lhe rendeu o titulo de Cidadão Sobralense em 2005 pela Câmara Municipal em votação unânime.

Aconteceu algo de especial para o senhor ingressar na Polícia Militar?
Sim. Naquela época eu achava muito bonita a farda e o posto de tenente a coronel. Pela questão do respeito.

Depois que ingressou na policia teve algum momento que pensou em desistir da profissão?
Não, nenhum momento me fez desistir, sempre gostei do que fazia.

Muitos policiais são acusados de participar de negócios ilícitos, a que o senhor atribui este tipo de comportamento fora dos padrões da policia?
Acredito que pela falta de compromisso e de vocação. Hoje em dia muitos policiais que entram na corporação não estão ali por gostar e sim pela questão da garantia do emprego.

O senhor acha que o Ronda do Quarteirão diminuirá a violência na capital cearense e posteriormente em todo estado?
Sim, confio muito nessa iniciativa, até porque possui uma interação dos PMs com a sociedade, pois é essa interação que possibilita confiança e maior credibilidade.

Boa parte de sua vida foi destinada a PM, se tivesse a oportunidade, gostaria de continuar ou retornar a servi-la? Ela possui algo de especial que lhe faz pensar assim? O quê?
Continuaria, sim. O que me faz gostar da Policia Militar é a disciplina e a questão da hierarquia.

Diante de todos os trabalhos produzidos por você enquanto esteve na PM, qual deles você acha mais importante?
O respeito às pessoas e mostrar para a sociedade as qualidades do policial, possuindo uma maior credibilidade junto a sociedade.

Em 2005, você foi condecorado com o título de cidadão sobralense, o que lhe fez pensar ao receber o título?
Pude perceber que a partir de então, teria cada vez mais o dever de proteger o cidadão, sempre respeitando mesmo aqueles que delinqüiram.

Apesar de no BPTRAN você ter algo relacionado com o trânsito, agora no DETRAN o que teve de diferença, e o que lhe fez aprender nesta gestão ainda continua?
No DETRAN, estou procurando conhecer melhor a lei do CTB (Código de Transito Brasileiro) para esclarecer da melhor forma possível à sociedade e, por conseguinte uma maior segurança no trânsito.

"Diagnóstico precoce é melhor forma de combate"

No diagnóstico precoce está o fator principal para a cura do câncer. A opinião é do médico Ivon Teixeira de Souza, 44 anos de idade, graduado pela Universidade Federal do Ceará desde 1990, com especialização em Urologia e presidente do Centro de Estudos da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza

Na sua opinião, se as pessoas portadoras de tumores pudessem ser consultadas por especialistas e tratadas convenientemente, muitas sobreviveriam.

Ivon enaltece a medicina Nordestina e diz que ela só está em um nível abaixo de São Paulo, por exemplo, geralmente em função das tecnologias que são utilizadas na maior capital brasileira. O Ceará, no seu modo de entender pratica uma medicina de excelente qualidade.

Com vivência no interior, o médico diz que a atuação de profissionais de saúde na região necessita de maiores incentivos de forma a fixar os médicos em cidades fora dos grandes centros populacionais. Com relação ao SUS, enfatiza que os valores pagos aos profissionais, hospitais e laboratórios estão desatualizados, o que gera descontentamentos.

O Câncer tem cura? O que as pessoas acometidas de tumores malígnos devem fazer para que tenham uma sobrevida?
O câncer tem cura. Os melhores resultados ocorrem com o diagnóstico precoce da doença.

Por que, na maioria das vezes, quando se retira a próstata cancerosa do homem, ocorrem problemas com ereção?
A disfunção erétil é uma das complicações da cirurgia prostática radical para cura do câncer. Ocorre em 60% dos pacientes, e resulta de lesão dos nervos penianos que se localizam ao lado da próstata.

O senhor acredita em políticas públicas para reduzir os índices de câncer de próstata?
Ivon: As ações em mídia que a Sociedade Brasileira de Urologia tem desenvolvido visam estimular o diagnóstico precoce do câncer de próstata e com isso, instituir um tratamento curativo. Desta forma espera-se diminuir o índice de mortalidade da doença. Nós ainda não conseguimos reduzir a incidência.

Como o senhor vê a medicina no Nordeste com relação à medicina de centros mais populacionais mais adiantados? A medicina praticada no Ceará é a mesma de São Paulo, por exemplo?
Ivon: A medicina praticada no Nordeste está entre as melhores do país. Salvador, Recife e Fortaleza se destacam entre as demais cidades. São Paulo está sempre na vanguarda da medicina brasileira por uma conjunção de fatores principalmente no quesito tecnológico

O senhor já atendeu em cidades do interior. Por que, no seu modo de entender, os médicos tem certa resistência a idéia de residir no interior?
Ivon: A atuação médica no interior necessita de um maior incentivo para fixação do profissional. É necessária uma forma contínua de atualização de conhecimento; independência profissional; condições mínimas de exercício profissional e boa remuneração.

Gaúcha engajada em programa de assistência a meninos cearenses


Camila Vasconcelos, Elidiane Gonçalves, Jane Moreno e Nyzelle Dondé

Paulina dos Santos Gonçalves, natural de Alegrete – RS, é graduada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) em Assistência Social e atua no Programa de Liberdade Assistida Comunitária (LAC), atividade desenvolvida pela Pastoral do Menor em Fortaleza – CE. A gaúcha atua na área da criança e do adolescente desde 1993.

O Programa do LAC existe em Fortaleza desde 2002 e atende crianças e adolescentes que cometeram algum tipo de ato infracional e o ajuda a se reabilitar através de medidas sócio educativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 112.

Paulina dos Santos Gonçalves nos acolheu em sua casa, para nos contar um pouco mais deste programa num clima bem descontraído. A entrevistada nos contou histórias inusitadas dos adolescentes que são atendidos pelo programa. Alguns casos trágicos e outros com final feliz, em que o adolescente consegue se reabilitar e pretende prestar vestibular para o curso de assistente social para ajudar outras crianças que passaram pela mesma situação que ele.

Como foi que você veio morar aqui em Fortaleza e como você conheceu a Pastoral do Menor?
Paulina - Bem, eu vim transferida, porque eu pertenço a uma congregação religiosa que tem uma casa aqui em Fortaleza. Eu sou assistente social por formação e além de ter um trabalho pastoral também tenho que ter um trabalho profissional para me manter. Então eu procurei a Pastoral do Pastoral do Menor que por coincidência estava precisando de pessoas voluntárias para abordagem de rua, e assim que eu comecei. Fiquei 2 anos trabalhando como voluntária, quando precisou de uma assistente social eles lembraram de mim e me convidaram. Fiquei feliz, porque para mim era um desafio. Foi assim que eu vim parar aqui em Fortaleza e no programa de liberdade assistida comunitária.

Quais são as comunidades que o LAC assiste e quais foram os critérios de escolha dessas comunidades?
Paulina - Atendemos as comunidades do Pirambu, do Tancredo Neves, Jardim Iracema e Bom Jardim. As comunidades foram escolhidas por 2 critérios, um por ser em lugares com muitos adolescentes cometendo delitos e o outro por possuírem grupos ligados a Pastoral do Menor.

Atualmente vocês atendem quantos adolescentes?
Paulina - O trabalho hoje tem ampla abrangência e atuação, compreendendo desde à capital até as cidades do Interior em mais de 30 grupos que atendem diretamente 1500 crianças e adolescentes na idade entre 7 e 18 anos.No final de 2008 atendemos no total de 107 meninos só aqui na capital de Fortaleza.

Quais são os maiores problemas enfrentados nos atendimentos dos meninos?Paulina - No Jardim Iracema, por exemplo, os meninos envolvidos com crack, chegam sempre agitados aos atendimentos. Então temos que nos adaptar ao mundo deles, e a gente tem fazer um atendimento mais dinâmico, com mais espaço para eles gastem essa agitação. Nós trabalhamos com todos eles o acordo de convivência básica, para que no atendimento não exponha nem eles nem nós. As meninas, por incrível que pareça, vêm mais sofridas e são bem mais difíceis de trabalhar. Mas cada um é uma história e uma problemática diferente.


Há algum tipo de assistência para a família, caso eles tiverem precisando?
Paulina - O nosso trabalho é de acompanhamento do adolescente e na medida do possível com a família. Se a família deles precisa de alimentação, a gente aciona a rede de assistência do município. Teve casos que a gente precisou fazer vaquinha. Nós vamos cobrar do município, do estado, vamos atrás do conselho tutelar. Muitas vezes a família tem trabalho informal e se vira com o Bolsa Família. É um momento de escuta para as mães. Nós estamos trabalhando no grupo de apoio a família e uma vez por mês nós fazemos um atendimento coletivo, o que nós chamamos de círculo de cultura, nós trabalhamos alguns temas, fazemos atividades juntos, é um dia de descontração, comemoramos aniversário, com merenda. É um trabalho de conquista.

Qual é o perfil dos meninos que são atendidos pelo LAC?
Paulina - Geralmente meninos de escolaridade baixa, nem concluíram as primeiras séries do ensino fundamental. 50 % admitem ter envolvimento com drogas, e muitas vezes é a droga que leva esses garotos a roubarem. É interessante que a maioria dos meninos tem vínculo forte com a família, esse é o dado interessante, outro dia fizemos um censo. A maioria mora só com a mãe, ou com a vó.

Que tipo de ato infracional é mais comum entre os adolescentes atendidos por vocês?
Paulina - Em geral é tráfico de drogas, pequenos furtos, perturbação do sossego alheio. As meninas que são geralmente pegas guardando drogas para os namorados e aí vai.

Quais são as atividades realizadas pelo programa?
Paulina - Realizamos o círculo de cultura, que é um espaço de dinâmica e vivência entre os adolescentes. Tem a GAF (Grupo de Apoio à família), lá fazemos atividades com os familiares dos menores com o intuito de fortalecer a auto-estima de cada um. Visitas Domiciliares, que possibilita a equipe conhecer de perto o ambiente do adolescente a fim de procurar alguma forma de intervir positivamente naquele contexto, além de atendimentos personalizados – onde está inserido a elaboração do Plano de atendimento Individual (PIA) - e rodas de conversa com orientadores sociais.

Qual é a trajetória do adolescente que cometeu um ato infracional passa até chegar no Programa de Liberdade Assistida - LAC?
Paulina - O adolescente que cometeu um ato infracional, primeiramente ele é apreendido pelo policial que o encaminha para a delegacia especializada onde é feito o boletim de ocorrência. Ele é ouvido pelo promotor do Ministério Público. Depois que acontece o julgamento, se o ato for considerado leve, eles localizam a família, entregam a família e acontece o acompanhamento no LAC que se dá através de reuniões para o preenchimento de relatórios de acompanhamento, onde deverão constar histórico familiar, pedagógico, de capacitação e conduta criando subsídios e extensão ou desligamento da medida socioeducativa. Em um dia marcado, eles tem que se apresentar na audiência. Se no julgamento o ato for considerado grave, ou a família não conseguir ser localizada, ele fica na triagem, que é uma unidade de recepção, onde ele vai ficar aguardando a audiência com o Juiz

Como funciona a LAC e quais seus objetivos principais?
Paulina - O programa é desenvolvido através da interlocução junto ao poder judiciário e dos conselhos de Direitos e Tutelares, Secretarias e Rede de atendimento aos direitos da criança e adolescente. Os adolescentes chegam das delegacias especiais e tendo como medida Sócio-Educativa a Liberdade Assistida se iniciam os atendimentos que acontecem na própria comunidade do adolescente a partir do acompanhamento da equipe técnica. O Programa mostra ao adolescente o valor de sua liberdade e as regras necessárias para a convivência social. Tem o objetivo de acompanhar os adolescentes, aos quais a autoridade aplicou a medida sócio-educativa de Liberdade Assistida, através de abordagens individuais e grupais, envolvendo também os familiares. Esse programa tem como principal função pedagógica levar ao adolescente a certeza do seu valor como pessoa humana e sujeito de direitos.

A equipe é formada por quantas pessoas? E qual é sua responsabilidade?
Paulina - A equipe é formada por 2 assistentes sociais, 1 psicóloga, 1 pedagogo, 6 estagiários, 1 secretário e 2 pessoas da coordenação. O papel da equipe é acolher, acompanhar o adolescente e a cada 3 meses fazer um relatório, como eu já tinha citado anteriormente identificando as problemáticas sócio-familiar no intuito de inseri-los em políticas públicas e serviços sociais. Se ele continuar com problemas nós vamos oferecer tratamento e comunicar ao juiz para ser avaliado junto com a promotoria. Um ponto de destaque dentro da proposta de Liberdade Assistida comunitária é que cada adolescente possui um Orientador Social que disponibilizam de 2 a 4 horas semanais para acompanhar o mesmo, sendo uma referência de apoio nesse contexto de vida do adolescente em Liberdade Assistida.

Quais são as medidas socioeducativas?
Paulina - Ao todo são seis. A primeira é a advertência, a segunda é a reparação de danos; a terceira é prestação de serviço a comunidade, em um lugar público com duração de 6 meses a 1 ano; a quarta é o acompanhamento através da Liberdade assistida; a quinta é a internação provisória, que é para dar um “susto” que vai de 45 no máximo 90 dias no caso de o adolescente não comparecer aos atendimentos, sexta e última é a privação da liberdade.

De quem é a competência de manter financeiramente o programa?
Paulina - O programa de liberdade assistida comunitária era uma parceria com a prefeitura. Antes era uma parceria da pastoral do menor nacional com o Ministério da Justiça, que repassava esse recurso para desenvolver o programa de liberdade assistida comunitária. Um dos objetivos desse programa, além de atender os meninos era também a municipalização, fato que aconteceu em Fortaleza. Hoje a medida Liberdade Assistida é municipalizada e a Pastoral do Menor é uma parceira nesse trabalho. O recurso para a gente continua vindo do Ministério da Justiça, só que agora ele é administrado pela prefeitura, através da FUNCI (Fundação Criança e do Adolescente Cidadão), que é o órgão gestor da política da criança e do adolescente aqui em Fortaleza.

Qual é a sua opinião com relação à redução da maioridade penal?
Paulina - Pessoalmente, acho que seria um retrocesso, porque existe hoje uma idéia por alguns programas sociais, de que parece que os adolescentes são os únicos protagonistas do crime. Quando na verdade, hoje se for fazer um balanço dos crimes que são cometidos pelos adolescentes e os crimes que são cometidos por adultos, é bem maior, tanto veja que hoje são denunciados mais os casos de abuso feito contra crianças e adolescentes. E outra, o sistema penal não dá conta dos que tem, imagina hoje o sistema penal absolver esse contingente que está nos centros educacionais, o que seria? Então eu acho que essa redução seria um retrocesso sobre o que nesses 18 anos se construiu de direitos das crianças e adolescentes.

Retomando ao Estatuto, você acha que no Estatuto da Criança e do adolescente existe falha?
Paulina - Apesar dos 15 anos de promulgação do Estatuto, sua aplicação vem sendo comprometida pala ausência de políticas públicas e retaguardas, como por exemplo a LAC. Eu acho que existem algumas coisas dúbias, mas na verdade eu sempre me lembro de um jurista que dizia assim, “tem gente que diz que o estatuto não vai pegar...é mas Estatuto não é gripe (risos) o Estatuto é lei, tem que cumprir. Na verdade hoje, 18 anos depois do Estatuto criado, ainda tem muita coisa para se fazer. Porque o estatuto prevê os direitos não só de uma criança, pobre, ele pensa o direito da criança como um todo, como prioridade inclusive orçamentária e hoje se vê que no orçamento ainda não existe nenhuma rubrica específica da LAC. Se é prioridade, isso deveria repercutir também no orçamento.

Por fim um caso que deu certo, uma história de vida resgatada?
Paulina - Tem um caso de um menino que chegou para nós muito envolvido com a gangue, muitos amigos dele chegaram até a morrer. Mas este garoto sempre ia para os atendimentos. Posteriormente entrou para um curso técnico, depois o caso dele foi julgado ai ele foi liberado dos atendimentos. Um dia desses, nós fomos até a casa dele e a mãe dele nos falou que ele estava trabalhando em uma empresa e estava pensando em prestar vestibular para Assistente Social. Ele conseguiu dar um rumo para a vida dele. O mais interessante é que ele continua morando no mesmo bairro, que é um bairro violento, e continua amigo dos meninos da gangue, mas não se envolve mais. Nesse caso, a equipe ficou muito orgulhosa com o sucesso do nosso trabalho.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Entrevista - Anderson Sandes


Eliane Picanço, Rafael Davi e Rebeca Aguiar
José Anderson Sandes tem 28 anos de profissão e muita história para contar. Sempre foi muito interessado em arte e teatro e conversas com jornalistas, daí teve a vontade de se tornar um. Iniciou sua profissão ainda dentro de um contexto da ditadura militar e a auto-censura nos jornais, sempre defendendo a ideologia de fazer jornalismo de forma ética e que contemple a comunidade em que vivemos.

Atualmente edita o Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste desde a sua fundação em 1981 e leciona na Faculdade Nordeste e na Universidade de Fortaleza. É autor do livro “Diálogos com Pedro Nava – A Sedução da Palavra na Literatura.” Em sua obra, ele expõe o memorialista Pedro Nava através das inúmeras entrevistas dadas a revistas e jornais, especialmente do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Anderson o coloca no mesmo patamar dos grandes intérpretes do Brasil, tais como Euclides da Cunha, Sérgio Buarque, entre outros.O motivo de tamanha distinção é as mais de duas mil páginas que o memorialista escreveu sobre importantes momentos da História e da vida privada do País.

Anderson considera o diploma indispensável para exercer a profissão e aconselha aos futuros jornalistas que leiam e estudem sempre as questões ligadas à comunicação e que procurem as universidades que proporcionem melhor formação.

Gabriel García Márques falando sobre o jornalismo, declarou: “O jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade”. Você concorda com ele? Quando você decidiu ser jornalista?
Ele não mente, não é? Jornalismo é uma trajetória. Quer dizer, você se dedicando totalmente a ela, exercendo-a eticamente, confrontando valores da sociedade, contextos sociais, econômicos ou políticos de forma livre, democrática, é que você chega a uma conclusão de um mundo melhor. Mesmo apesar dos problemas, do país cheio de mazelas, de contradições. E essa é a função do jornalista. Decidi ser jornalista porque mantinha muito contato com jornalistas e ia muito ao teatro quando vim morar no Ceará.

Você já realizou várias coberturas na área cultural, especialmente literária. Qual entrevista ou reportagem mais lhe deu prazer?
Esta é uma pergunta muito difícil. Já tenho 28 anos de profissão e sempre me ensinaram Literatura na área de cultura. Comecei minha profissão como crítico de teatro em uma coluna de um jornal de Brasília, do qual me afastei um pouco pra me dedicar mais à Literatura, tanto que em meu mestrado em Letras estudei Pedro Nava [médico, memorialista, autor de vários livros: “Baú de Ossos”, “Balão Cativo”, entre outros]. Fiz várias coberturas, principalmente de vendagem de livros como as bienais que ocorrem aqui no Ceará. Eu e o meu colega Luís Sérgio Santos fizemos um caderno de cultura onde mostramos uma geração de bons poetas cearenses como Adriano Espíndola, Pedro Lira e José Alcides Pinto e demos espaço e voz a vários artistas no Estado que até então não tinham, e isso é muito importante. A indústria cultural age de forma muito perniciosa. Eu acho que o que é local, da nossa região, da nossa aldeia é mais importante.

Quais as dificuldades enfrentadas no começo da carreira? Em algum momento você já pensou em desistir?
Não, jamais quis desistir. Cada geração tem suas dificuldades. A minha é de 80, que começou dentro de um contexto ainda da ditadura militar. A ditadura foi um momento político, muito distante, gradual e lento. Ocorria muita tortura, perseguição e quem não se enquadrava dentro dos ditames sofria com isso. Era um discurso único. Nos jornais tinha muito a auto censura. E contra esse status quo que a nossa geração começou a desconstruir algumas rotinas impostas na redação. Já havíamos entrado na redação com um certo nível cultural e conhecimento do Brasil. Mas nós enfrentamos muitos problemas. Nós, jornalistas, devemos brigar e seguir a profissão com dignidade. Você deve sempre buscar a informação de forma ética e que contemple a comunidade em que você vive.

Quais os requisitos para exercer bem a profissão?
Honestidade, ética.

Hoje em dia, a categoria jornalística discute bastante a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. Você considera importante o diploma para exercer a profissão?
Em um país como o nosso, complexo e cheio de paradoxos, o diploma é muito importante. O jornal contratando mão-de-obra sem diploma, está é mais alinhada não com o público, mas com a empresa. E isto é muito ruim. O jornal não pode perder leitor. Tem que dar credibilidade. Um profissional formado vai saber se portar em uma redação dentro dos limites que ele pode ter para exercer sua profissão.

As faculdades, em sua opinião, preparam bem os alunos para o mercado de trabalho?
Nós temos muitas universidades, mas o aluno, o jovem deve procurar as universidades mais capazes. Aquelas universidades no ranking do MEC, já que há notas de 1 a 5. Aquelas, com maior capacidade, com quadro docente bom, que tenha pesquisa, extensão.

Qual os problemas que você identifica no jornalismo brasileiro?
Problema são muitos. A crise de identidade de um jornal, por exemplo. Dizem que houve uma recuperação, mas o número de leitores tem caído. Mas eu acho que o jornal não vai morrer. A esta crise atual – e acho que conjuntural – o impresso vai dar a volta por cima e fidelizar o leitor dando mais credibilidade, fugindo de certas amarras pra cumprir o seu papel.

Com a sua experiência de 28 anos de jornalismo, que conselhos daria aos estudantes que pretendem abraçar esta carreira?
Muita leitura e estudar muito. Estudar sempre as questões sobre a comunicação que acabam se ligando à Teologia, Literatura, Sociologia, Psicanálise, Economia, Política. Tem que estar sempre estudando. Por isso que eu estudo até hoje.

Uma vida a serviço do povo


Vereador Iraguassu Teixeira fala sobre dedicação ao povo através da política, medicina e rádio.
João Lira Görsch, Marivaldo Santos, Raquel do Val e Daniel Nóbrega

Participar da vida pública é, para muitos, envolver-se nos véus da fama como celebridades criadoras de opinião. Tal caso não se aplica ao Dr. Iraguassu Teixeira. Vereador de Fortaleza, médico e radialista, é um homem que se preocupa com a sociedade e busca melhorias representativas em áreas como a saúde, cultura e educação para o cidadão fortalezense.

Iraguassu é um homem público polivalente: exerce hoje seu sexto mandato, começou sua atividade politica na militância do PDT em 1987. Como médico, participou de mais de 14 mil cirurgias pelo SUS, há mais de 30 anos atende no Centro de Saúde da Floresta no bairro Álvaro Weyne; trabalha também como comunicador há mais de 20 anos. Além disso, é Presidente Honorário do Maracatu “Vozes d’África”, foi líder do PDT-CE de 1994 a 1996, membro da Comissão de Saúde no mesmo período.

Sua atuação enquanto legislador é expressiva. Autor de projetos importantes para Fortaleza, Dr. Iraguassu é responsável por leis municipais como a 9192/07, que obriga a existência de um cadastro dos membros de torcidas organizadas na capital, e pela lei 8825/04, responsável pela proibição no Município da venda de armas de brinquedo similares a armas reais.

Disposto e bem-humorado, sentado na cantina do Grupo Cidade de Comunicação, onde trabalha como comunicador, Dr. Iraguassu Teixeira fala em entrevista sobre sua vida pessoal e profissional. O político de 68 anos, nascido em Canindé, é Cidadão de Fortaleza por título desde 2006. Afirma ter sempre levado a sério seus mandatos, procurando cumprir as promessas feitas em campanha eleitoral. Revela-se preocupado com a saúde pública, comenta sobre a liberação de verba para distribuição de gel lubrificante, fala sobre maracatu, realizações pessoais e como concilia três atividades públicas.

Como surgiu o interesse pela carreira política?
Em 1988, Edson Silva foi candidato a prefeito. Eu já participava de campanhas pelo PDT, e Edson disse que queria que minha participação fosse ainda mais ativa no partido. No início recusei, pois sempre trabalhei na retaguarda, não falava em público. O que me interessava mesmo era a saúde pública, como medico, e não a política. Então Edson Silva, com mais outros amigos políticos, organizaram uma feijoada, sem que eu soubesse, para me convencer a participar. Inclusive eles fizeram até um cartaz, já haviam elaborado meu slogan (“PARA VEREADOR IRAGUASSU TEIXEIRA, O MEDICO”). Fico todo arrepiado só em lembrar. Então, fui oficialmente afiliado pelo PDT em 1988. Na época, quando me candidatei, seis políticos foram eleitos pelo partido e eu fui o mais votado. Na classificação geral, fui o 12o mais votado.

Já passou por alguma situação difícil, embaraçosa, enquanto político?
Não, eu sempre levei com dignidade o meu mandato. Sempre procurei cumprir as promessas de campanha, porque não uso de promessas mirabolantes. Trabalho pela saúde, educação...

Há algo na política que deixe Iraguassu Teixeira desapontado?
Quanto mais velho, mais você gasta e menos você ganha. O governo atual, que sempre foi a favor do trabalhador, não acompanha o salário do cidadão ativo e do aposentado. Isso dói em mim porque luto pela classe trabalhista e pelo idoso.

Quais dos projetos propostos pelo senhor na Câmara Municipal o senhor considera como mais importantes?
Vários projetos já foram aprovados. No esporte, por exemplo, um deles é o projeto de criar o cadastramento com carteirinha para identificação do torcedor, falta apenas ser regularizado pela prefeita. Um outro projeto pelo qual me sinto realizado é o da criação dos laboratórios de atendimento para pacientes portadores de hepatite C, mas que ainda estão analisando.

Como o senhor concilia política, medicina e rádio?
Todas elas são atividades públicas bem semelhantes. Com o trabalho médico, pude ajudar a maioria da população levando os problemas da saúde publica para o rádio e para a política no intuito de resolver. Então, saúde, rádio e parlamento se complementam.

Sente-se um homem realizado enquanto pessoa e enquanto profissional?
Na Medicina, sinto-me cumprindo meu papel, já realizei mais de 14 mil cirurgias e hoje atuo como clínico. Na política, já não me sinto tão realizado: apesar de não ter aceitação completa de todos, tenho um bom número de eleitores, assessores, companheiros, e isso nos envaidece muito. Fui o mais votado da coligação com 8.013 votos na última eleição. No rádio, continuo trabalhando e aprendendo. Acho que o rádio é como a medicina, a cada hora, a cada minuto ele vai se modificando. Na função de pai, encaminhei dois filhos no campo da comunicação, pois nenhum quis seguir a Medicina, e tenho além de tudo, uma esposa maravilhosa.

E o maracatu?
Sou bastante ligado à historia do maracatu, o porquê das pessoas brancas se transformarem em pessoas de pele negra, e às danças no ritmo afro. Eu sou defensor do maracatu. Infelizmente, temos memória curta em relação à nossa cultura, e o maracatu traz de volta à memória a história do negro no Nordeste. Sou o Presidente de Honra do maracatu Vozes d’África. Inclusive, próximo dia 25 de março, faremos uma solenidade afro-brasiliense, na Igreja do Rosário.

O Governo Federal liberou verba para a compra de 15 milhões de lubrificantes KY Gel. Isso repercutiu principalmente na mídia cearense, como em programas políciais, jornais e rádio. Qual sua opinião a respeito?
Estranhei a preocupação do Ministro da Saúde quando ele liberou um percentual financeiro para compra do KY Gel. Ele tinha cortado orçamento em mais ou menos 42 milhões de reais, e com isso houve a redução de atendimento ao paciente cirúrgico. Enquanto isso, o mesmo governo libera verba para o KY Gel. Não tenho nada contra, pois a questão de opção sexual é individual, sendo o KY Gel usado no ato sexual. Depois, veio o contraponto de que eu estava exagerando e que servia para facilitar a penetração na mulher. Hoje, a população de idosos vem crescendo. Devido à cultura que vem se modificando, as mulheres mais velhas que tinham uma atividade sexual sofrida, agora com o KY Gel terão mais facilidade.

Por quem trabalha o Dr. Iraguassu Teixeira, vereador de Fortaleza?
Luto pelo respeito ao idoso, pois os jovens não os respeitam, o tratam como figura sem valor, tudo de ruim é o idoso. Não sabem que daqui a alguns anos serão idosos também, quero conseguir que através de leis regulamentadoras o idoso tenha prioridade de atendimento. A luta dentro da Câmara Municipal é que o Estatuto do Idoso seja respeitado nos postos de saúde.

Entrevistas 2009.1

O blog inicia hoje a publicação das entrevistas realizadas pelos alunos de Técnicas de Apuração, Entrevista e Reportagem I (manhã) e II (noite). Os trabalhos foram aplicados como a primeira avaliação do semestre 2009.1 na FIC.

domingo, 22 de março de 2009

Iniciativa de responsabilidade promove inclusão social

Texto: Ederclinger Reis e Germana Cleia

Nos últimos anos, são cada vez mais presentes organizações governamentais, empresariais e sociais atuarem em rede. Isso se deve a comparações de que um setor não pode viver isoladamente. A exemplo disso, temos iniciativas de responsabilidade socioambiental, que promove a inclusão na comunidade local, como ações de conhecimento, esportivas e cooperação.

Inicialmente, cabe ao Estado o papel da responsabilidade objetiva na econômica e na política. Porém, as empresas influem numa escalada crescente para defenderem a idéia do papel social da empresa. Essa situação só é possível graças às iniciativas de projetos vindos das próprias comunidades ou organizações sociais. Assim, a empresa passa a se vê como componente da sociedade na possibilidade de melhorar realidades negativas existentes. O resultado é a instituição se tornar uma espécie de empresa-cidadã, que intermedia ações entre o Estado e a sociedade. A preocupação maior é com a qualidade de vida e o retorno econômico. A cultura de paz é conseqüência.

Cidadão de Futuro, de iniciativa do BNB Clube de Fortaleza, é um exemplo de empresa-cidadã por meio do Projeto de Responsabilidade Social Empresarial, mas que tem parcerias com a Prefeitura de Fortaleza, o que mostra a rede entre setores da sociedade. Também está nesse circuito o Banco do Nordeste e a Associação Brasileira de Educação Familiar e Social – ABEFS. Desde junho de 2006, o projeto executa várias ações que buscam atender o plano de ação elaborado pelas entidades que formam a parceria operacional.

Para Danilo Lopes, diretor cultural do BNB Clube, “o projeto oportuniza o estímulo da melhoria da comunidade através da participação em atividades sócio-educativas, possibilitando a inclusão social”. Danilo também fala da cultura de paz através do projeto. “Na medida em que os protagonistas da comunidade se envolvem no projeto, há uma transformação social e os índices de problemas diminuem. Aí a paz nas comunidades se concretiza verdadeiramente”, complementa.

As atividades do Projeto buscam fundamentar trabalhos sócio-educativos, esportivos, culturais e de iniciação profissional, possibilitando aos participantes novas alternativas de inclusão social e de exercício da cidadania, utilizando como base física às instalações da Sede Praia do BNB Clube de Fortaleza (Caça e Pesca) e do Centro de Apoio Familiar Maria Adelaide e da ABEFS (Cocos).

Mauro Oliveira, diretor do Cefet-CE Pirambu disse que "a verdadeira inclusão, nesse país, só se dará quando nós tivermos mecanismos que possibilitem os jovens se apropriarem do seu entorno social."

A população da área atendida está em torno de 10.568 habitantes (IBGE, 2000), sendo 4.494 (42,5%) com menos de 18 anos. Os moradores da área de abrangência do Projeto vivem num contexto onde muitas vezes não se verifica condições mínimas de higiene, saneamento e atendimento médico suficiente para a demanda. O morador Francisco das Chagas, 55 anos, disse que “a comunidade avançou bastante, mas ainda há muito o que fazer porque as pessoas são muito carentes e o papel é de todos”.

A realidade educacional da área apresenta deficiências em relação ao direito à educação, verificando que a população não possui elementos confiáveis sobre o diagnóstico de sua realidade, principalmente no que diz respeito a este aspecto.

A via-crucis do ecumenismo

A pretensão revolucionária da união entre igrejas em busca de tolerância e paz gera polêmica, preconceito e resistência no meio religioso

Texto: Regina Duarte, Suzy Valério e Gabriela Bezerra

Ecumenismo é o processo de busca da unidade. O termo que surgiu na Conferência Missionária Mundial, em Edimburgo, em 1910, provém da palavra grega "oikos", que significa casa, querendo indicar "toda a terra habitada". Num sentido mais restrito, esse termo é colocado quando se fala nos esforços em favor da unidade entre igrejas cristãs. Num sentido amplo, também chamado de macro-ecumenismo, pode demonstrar a busca da unidade entre as religiões ou mesmo, da humanidade.

No dicionário, ecumenismo é definido como o movimento que visa à unificação das igrejas cristãs, que engloba a católica, a ortodoxa e a protestante. A definição da Igreja diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. Atualmente, o termo tem um significado estritamente religioso, apesar do seu contexto histórico abranger os aspectos geográfico, cultural e político.

No Brasil e no mundo existem vários organismos de natureza ecumênica. O mais importante, no Brasil, é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC, fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília e cujo símbolo é um barco. Seus membros são: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil. No Ceará, o movimento ecumênico se torna concreto através do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Ceará, o CONOERCE, presidido pelo pastor da Igreja Bastista, Samuel de Aguiar Munguba Jr.

O presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Ceará, o CONOERCE, Samuel Munguba Junior, falou com a nossa reportagem sobre seu trabalho.

O ecumenismo é um tema muito polêmico. O que é o ecumenismo na sua visão?
O ecumenismo na minha ótica é o diálogo religioso entre as religiões, não a junção de religiões, é cada Igreja, cada um que pertence a uma Igreja, tem o respeito, o carinho, o amor. Você não simplesmente isola uma pessoa, diminui uma pessoa por aquela prática daquela religião. Eu tenho amigos que são macumbeiros, espíritas, católicos e os da Igreja Batista, que é a minha religião. Você não pode rotular uma pessoa pela religião que ela professa. Eu acho que isso é uma questão de cultura de paz.

Então, qual a sua visão sobre cultura de paz do ponto de vista do ecumenismo?
Eu acredito que o nome cultura de paz é bem apropriado porque é o seguinte: isso não é uma ação isolada, você não pode ter apenas uma ação de uma Igreja, de uma entidade, de uma universidade, mas deve ser uma cultura, ou seja, cultura é aquilo que é próprio de um povo. Você tem que criar mecanismos para que as pessoas possam começar a pensar dessa forma. Por exemplo: se você não joga lixo na rua é porque você aprendeu, essa é a cultura daquele povo. Isso deve acontecer com a paz. Não é simplesmente a ausência de guerra, é o envolvimento de toda sociedade com atos claros de paz. Assim como o amor não é sentimento, o amor é prática, a paz também não é apenas um rótulo que você coloca, mas é uma vivência.

De que forma o ecumenismo pode contribuir para a cultura de paz?
A minha maneira de ver é que Deus é grande demais e nós não compreendemos toda a dimensão de Deus. Eu consigo compreender uma parte disso, então, eu vou tentando compreender mais. O importante é você ser humilde o suficiente pra dizer: “Eu entendo dessa forma, mas ela não é a única verdade”.

Algo aconteceu em sua vida para que o senhor se engajasse nessa filosofia de cultura de paz?

Eu também sou cantor. A venda dos meus CD’s rendia uma média de R$ 300.000 por ano. Quando CONOERCE, no outro dia, cortaram meus CD’s das rádios, não me chamaram mais pra nada. Eu fazia show no (Estádio) Castelão, show no (Estádio) Presidente Vargas e em grandes locais da cidade. No outro dia, eu não existia mais para a comunidade evangélica. Foi um preço muito alto que paguei, mas faço isso porque acredito que alguém precisava fazer.

Dentre várias outras atividades, além de ser líder de uma igreja evangélica, o senhor é presidente do CONOERCE, o movimento ecumênico do Ceará. Como funciona esse movimento?
Nós ficamos conhecidos na área do ecumenismo porque ela aglutina padres, pastores, líderes religiosos e nós aprendemos a convivência do diferente juntos. Aliás, tivemos que aprender por causa da lei. A lei diretriz base de educação. Ela é a teoria da existência do CONOERCE, mas nós tínhamos de aprender na prática, ou seja, foi o jeito, não é porque nós somos bonzinhos, não é porque a Igreja Católica é maravilhosa ou a Igreja Batista... Não! É porque é lei. A lei disse que precisava existir e nós fomos aprendendo no dia-a-dia com essa convivência.

Há muita polêmica envolvendo o movimento ecumênico. O senhor é muito criticado?
Eu acho que já fui bem mais, mas a gente tem que aprender com as diferenças. Eu aprendi uma coisa: o diferente não é, necessariamente, meu inimigo, ele é meu professor, ele me ensina o que eu não vivo, aquilo que eu não sei, que não compreendo. O diferente é importantíssimo pra mim.

A gente observa que o fanatismo é motivo de guerras históricas. Como o ecumenismo pode contribuir para que haja uma mudança em favor da cultura de paz?
O fanatismo é utilizado sempre através do poder e das igrejas pra conquistar mais, pra dominar, pra manipular. Na nossa Igreja o que eu mais trabalho é a questão da conscientização, ou seja, eu quero que as pessoas pensem e é muito difícil você levar as pessoas a pensar, porque as pessoas que mande nela, alguém que domine, alguém que decida por ela, porque se der certo o mérito é da pessoa, mas se der errado, ela tem a quem culpar. O fanatismo vai por aí, alguém domina a sua vida, que diz que você não vai para o céu se faz aquilo, que, se fizer, perde a salvação. A Igreja Batista, no meu caso, é muito aberta, ela faz você pensar sobre a vida. Agora, eu fico preocupado com o seguinte: se nós observarmos as grandes guerras, sempre há um fundo religioso. Nós precisamos trabalhar para que a religião liberte. A religião mal vivida aprisiona mais do que liberta.

De que forma cada indivíduo poderia contribuir para a paz no mundo?
A mudança começa em cada um. No meu caso, eu sou pai, então, como eu trato meus filhos? Como eu trato a minha esposa? Eu acho que o grande desafio de um Pastor é que quando eu estou pregando, eu tenho a minha mulher e meu filho na primeira fila olhando pra mim, medindo exatamente quem eu sou, qual a integridade da minha vida. E ser íntegro é ser a mesma pessoa sempre. Eu acho que a cultura de paz começa por aí, quando eu sou íntegro. Ser a mesma pessoa e investir na sua vida, no seu relacionamento. Cultura de paz começa em casa.

A paz pela comunicação

Texto: Antônio Júlio, Serena Morais e Monika Maud

Detentos julgam, condenam e executam no interior do IPPS. É essa a principal manchete veiculada pelo jornal Diário do Nordeste do dia 17 de novembro de 2008. E como essa, muitas outras fazem parte do cotidiano dos milhares de leitores, ouvintes e telespectadores da nossa imprensa. A tese de que a imprensa está cada vez mais sensacionalista vai se confirmando. “Espreme que sai sangue”, livro do jornalista Danilo Angrimani expressa uma grande verdade.

Inquietos com a veiculação de tanta violência pelos próprios meios de comunicação, um grupo de amigos, formado por empresários e jornalistas e outras pessoas de diversos segmentos da sociedade, começou a pensar uma forma de participação que pudesse amenizar tamanha proliferação de má noticia. Assim nasceu a Agência da Boa Noticia – ABN, a partir da necessidade de paz e com a vontade de dar e receber boas notícias.

Para o professor e jornalista Francisco Souto Paulino, a missão da ABN é estimular a cultura de paz através da comunicação. A paz entrando nos lares, no som dos ônibus ou do carro, na mente e no coração de cada um de nós. Esse é o fruto “saboroso” que se pode colher. Ainda segundo Souto, a comunicação e todos os que trabalham com ela, são realmente o solo fértil que a Agência da Boa Notícia buscava.

“Talvez aquele grupo de amigos fizesse um movimento, uma campanha ou um conjunto de ações temporárias, mas não seria o suficiente. Quantas campanhas têm sido feitas em prol do meio ambiente, da ética, disso e daquilo, e esquecemos o assunto no fim do projeto? A paz é uma conquista diária, permanente, que cresce com água, sol e adubo”, afirma Souto.

A ABN é hoje um instrumento sensibilizador dos meios e dos profissionais de comunicação, captando, elaborando e veiculando as notícias: não qualquer notícia, mas boas notícias. Souto Paulino define como boa notícia àquela que tem função social, que harmoniza a sociedade.

Na mesma linha de pensamento da ABN a Agência de Notícia Esperança - AnotE se define como um espaço onde as pessoas podem denunciar sem medo tudo aquilo que é contrário à vida. A Anote acredita que tornar públicos os trabalhos de promoção dos Direitos Humanos, na maioria das vezes omitidos pela grande mídia, contribui para despertar o interesse e a necessidade de participação das pessoas. Por isso o seu público alvo é aquele que o modelo de desenvolvimento segregador teima em chamar erroneamente de minorias.

Desde a sua criação, em junho de 1996, a AnotE carrega consigo o sonho e a luta de um mundo sem exclusão social, sem violência, feliz para todos. Daí o porquê de no seu nome trazer a Esperança.

Ana Lourdes, articuladora das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs da Arquidiocese de Fortaleza, considera a AnotE como sendo um espaço de anúncio de boas notícias produzidas pelas comunidades, espaço onde se pode denunciar sem medo tudo aquilo que é contrário à vida.

Para atingir seus objetivos a AnotE e a ABN contam com pessoas e movimentos da caminhada, parceiros e parceiras que acreditam num outro mundo possível, dando suporte para que as boas notícias possam chegar como sinal de esperança, através dos meios de comunicação. Confira algumas das boas notícias nos sites da Agência da Boa Notícia e da AnotE

Cultura de paz na sociedade contemporânea

Texto: Fernanda Gomes, Renata Gomes e Vanessa Schramm
O termo cultura de paz serve para designar um conjunto ações que promovem, na sociedade, uma mudança na forma de relacionamento entre os indivíduos. A cultura de paz é imprescindível para pensarmos na tolerância, no relativismo cultural, no respeito à diversidade e, sobretudo, na democracia.

Carla Michele Andrade de Quaresma que é bacharel em Ciências Sociais, mestre em sociologia, doutoranda em comunicação e cultura contemporânea na Universidade Federal da Bahia e professora das disciplinas de metodologia científica e sociologia na Faculdade integrada do Ceará nos forneceu algumas informações a respeito do assunto. Para a professora, os indivíduos estão fechados ao diálogo uns com os outros. “Nós somos pouco abertos ao diálogo, à conversação. E a partir de tudo isso surgem intolerâncias e o desrespeito aos direitos do outro, o desrespeito ao direito à diversidade. Então, devido a essa incoerência é que praticamos, na maioria das vezes, aquilo que se contrapõe à cultura de paz”, disse a socióloga.

O diálogo pode, também, contribuir para a cultura de paz. A relação dialógica ajuda os indivíduos a entender o desconhecido, ajuda-os a aceitar o diferente.
As instituições de ensino podem oferecer suporte na formação do indivíduo desde cedo com a conversação, educação pela diferença e respeito pelo próximo. É necessário que as instituições de ensino tenham consciência de que precisam ensinar a cidadania e não apenas níveis técnicos. As instituições de ensino têm que se conscientizar de que os indivíduos não estão preparados adequadamente para a sociedade.

Para Carla, quando os indivíduos se preparam para o mercado de trabalho, eles se preparam para desenvolver alguma competência específica, mas não se preparam para a vida social e para a relação dialógica. “As instituições de ensino têm que exercer esse papel fundamental de ensinar a cidadania e ensinar aos indivíduos a tolerância e o respeito ao outro”, ponderou a socióloga.

Atualmente, percebemos uma desagregação familiar na sociedade. As famílias contribuem para a formação dos conceitos do indivíduo. Uma família má estruturada provavelmente originará indivíduos desinformados e propícios á violência porque não tiveram o exemplo de respeito e amor que deve existir numa relação familiar. Ter um bom exemplo a seguir é necessário para um indivíduo que está formando seu caráter e valores para enfrentar a sociedade futuramente.

Para Carla, a formação íntegra das crianças e adolescentes deve ser um trabalho compartilhado entre família e escola. “Tem que ser uma educação em conjunto: família, escola e as demais instituições sociais. Todas as instituições de ensino devem atuar no sentido de promover a cultura de paz”, acredita a socióloga Carla.

A jornalista, doutoranda de assessoria de comunicação e bacharel em Direito Ângela Marinho, concorda com as idéias da socióloga e acrescentou aspectos relevantes para a formação da cultura de paz. Para ela, as crianças têm que ser educadas desde cedo. “Se você educar seu filho respeitando o direito do outro desde criança, então começa uma cultura de paz na infância”, foi o que Ângela informou.

A cultura de paz na comunicação
Os meios de comunicação veiculam a violência porque existe audiência para isso. A mídia pode influenciar a sociedade que não está preparada para o consumo das idéias vendidas nos meios de comunicação. Os programas e jogos com conteúdo violento podem incentivar à violência.

Segundo Ângela Marinho, os jornalistas, empresários e publicitários podem contribuir para a cultura de paz a partir da criação de textos que apenas informem o público sem confrontar e sem fazer apologia à violência. “Eu acho que você pode permitir a informação, respeitando a privacidade e integridade alheia, entretanto isso não é feito com freqüência”, destacou a jornalista.

“Todos nós devemos fomentar o respeito ao outro, à dignidade humana e às instituições democráticas. Toda a sociedade tem que se mobilizar em prol dessa causa porque é um trabalho em conjunto. Nós estamos numa situação caótica e termos que nos alertar”, disse Carla Michele.

domingo, 23 de novembro de 2008

Cobertura da Semana de Comunicação

Nos posts abaixo, vocês conferem a cobertura de alguns eventos da Semana de Comunicação da Faculdade Integrada do Ceará, realizada entre 11 e 14 de agosto. Os alunos Davi Garcia, Ederclinger Reis e Antônio Júlio Souza mostram alguns dos painéis de discussão conduzidos durante o evento, em um exercício de apuração e produção noticiosa.