quarta-feira, 15 de abril de 2009

Entrevista - Anderson Sandes


Eliane Picanço, Rafael Davi e Rebeca Aguiar
José Anderson Sandes tem 28 anos de profissão e muita história para contar. Sempre foi muito interessado em arte e teatro e conversas com jornalistas, daí teve a vontade de se tornar um. Iniciou sua profissão ainda dentro de um contexto da ditadura militar e a auto-censura nos jornais, sempre defendendo a ideologia de fazer jornalismo de forma ética e que contemple a comunidade em que vivemos.

Atualmente edita o Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste desde a sua fundação em 1981 e leciona na Faculdade Nordeste e na Universidade de Fortaleza. É autor do livro “Diálogos com Pedro Nava – A Sedução da Palavra na Literatura.” Em sua obra, ele expõe o memorialista Pedro Nava através das inúmeras entrevistas dadas a revistas e jornais, especialmente do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Anderson o coloca no mesmo patamar dos grandes intérpretes do Brasil, tais como Euclides da Cunha, Sérgio Buarque, entre outros.O motivo de tamanha distinção é as mais de duas mil páginas que o memorialista escreveu sobre importantes momentos da História e da vida privada do País.

Anderson considera o diploma indispensável para exercer a profissão e aconselha aos futuros jornalistas que leiam e estudem sempre as questões ligadas à comunicação e que procurem as universidades que proporcionem melhor formação.

Gabriel García Márques falando sobre o jornalismo, declarou: “O jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade”. Você concorda com ele? Quando você decidiu ser jornalista?
Ele não mente, não é? Jornalismo é uma trajetória. Quer dizer, você se dedicando totalmente a ela, exercendo-a eticamente, confrontando valores da sociedade, contextos sociais, econômicos ou políticos de forma livre, democrática, é que você chega a uma conclusão de um mundo melhor. Mesmo apesar dos problemas, do país cheio de mazelas, de contradições. E essa é a função do jornalista. Decidi ser jornalista porque mantinha muito contato com jornalistas e ia muito ao teatro quando vim morar no Ceará.

Você já realizou várias coberturas na área cultural, especialmente literária. Qual entrevista ou reportagem mais lhe deu prazer?
Esta é uma pergunta muito difícil. Já tenho 28 anos de profissão e sempre me ensinaram Literatura na área de cultura. Comecei minha profissão como crítico de teatro em uma coluna de um jornal de Brasília, do qual me afastei um pouco pra me dedicar mais à Literatura, tanto que em meu mestrado em Letras estudei Pedro Nava [médico, memorialista, autor de vários livros: “Baú de Ossos”, “Balão Cativo”, entre outros]. Fiz várias coberturas, principalmente de vendagem de livros como as bienais que ocorrem aqui no Ceará. Eu e o meu colega Luís Sérgio Santos fizemos um caderno de cultura onde mostramos uma geração de bons poetas cearenses como Adriano Espíndola, Pedro Lira e José Alcides Pinto e demos espaço e voz a vários artistas no Estado que até então não tinham, e isso é muito importante. A indústria cultural age de forma muito perniciosa. Eu acho que o que é local, da nossa região, da nossa aldeia é mais importante.

Quais as dificuldades enfrentadas no começo da carreira? Em algum momento você já pensou em desistir?
Não, jamais quis desistir. Cada geração tem suas dificuldades. A minha é de 80, que começou dentro de um contexto ainda da ditadura militar. A ditadura foi um momento político, muito distante, gradual e lento. Ocorria muita tortura, perseguição e quem não se enquadrava dentro dos ditames sofria com isso. Era um discurso único. Nos jornais tinha muito a auto censura. E contra esse status quo que a nossa geração começou a desconstruir algumas rotinas impostas na redação. Já havíamos entrado na redação com um certo nível cultural e conhecimento do Brasil. Mas nós enfrentamos muitos problemas. Nós, jornalistas, devemos brigar e seguir a profissão com dignidade. Você deve sempre buscar a informação de forma ética e que contemple a comunidade em que você vive.

Quais os requisitos para exercer bem a profissão?
Honestidade, ética.

Hoje em dia, a categoria jornalística discute bastante a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão. Você considera importante o diploma para exercer a profissão?
Em um país como o nosso, complexo e cheio de paradoxos, o diploma é muito importante. O jornal contratando mão-de-obra sem diploma, está é mais alinhada não com o público, mas com a empresa. E isto é muito ruim. O jornal não pode perder leitor. Tem que dar credibilidade. Um profissional formado vai saber se portar em uma redação dentro dos limites que ele pode ter para exercer sua profissão.

As faculdades, em sua opinião, preparam bem os alunos para o mercado de trabalho?
Nós temos muitas universidades, mas o aluno, o jovem deve procurar as universidades mais capazes. Aquelas universidades no ranking do MEC, já que há notas de 1 a 5. Aquelas, com maior capacidade, com quadro docente bom, que tenha pesquisa, extensão.

Qual os problemas que você identifica no jornalismo brasileiro?
Problema são muitos. A crise de identidade de um jornal, por exemplo. Dizem que houve uma recuperação, mas o número de leitores tem caído. Mas eu acho que o jornal não vai morrer. A esta crise atual – e acho que conjuntural – o impresso vai dar a volta por cima e fidelizar o leitor dando mais credibilidade, fugindo de certas amarras pra cumprir o seu papel.

Com a sua experiência de 28 anos de jornalismo, que conselhos daria aos estudantes que pretendem abraçar esta carreira?
Muita leitura e estudar muito. Estudar sempre as questões sobre a comunicação que acabam se ligando à Teologia, Literatura, Sociologia, Psicanálise, Economia, Política. Tem que estar sempre estudando. Por isso que eu estudo até hoje.

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