terça-feira, 22 de julho de 2008

Existe capacitação para os motoristas?


Texto: Suelen Viana, Cícero Fernandes e Lucas Mendes
Foto: Suelen Viana


São 1.646 ônibus que circulam na capital, distribuídas em 219 linhas, totalizando 971.140 passageiros diariamente, segundo dados da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Fortaleza - Etufor.

Numa cidade grande como Fortaleza, onde a maioria da população usufrui do transporte urbano para se locomover, é impossível não perceber os problemas que surgem no dia-a-dia. Já se tornou comum vermos nos meios de comunicação notícias enfatizando problemas de trânsito. Não raras são as que relatam a indignação de usuários de transporte coletivo com os motoristas. As maiores reclamações estão relacionadas a excesso de velocidade, lotação acima da recomendada pelas leis de trânsito e desrespeito com os passageiros, principalmente com os que têm restrição de mobilidade, como idosos, gestantes e pessoas portadoras de deficiência.

Francisca Mesca, 78, moradora do bairro Jockey Clube, disse que diariamente pega algum ônibus das linhas Paranjana, Henrique Jorge ou Lineu Machado, para se locomover até o SESI da Parangaba, onde pratica hidroginástica, e que muitos motoristas são grosseiros e não fazem a parada que fica em frente ao órgão, porque há grande concentração de idosos nesse ponto. “Às vezes passam três ônibus para um resolver parar”, diz ela, ressaltando que isso não deve ser generalizado porque a maioria dos motoristas são gentis e atenciosos. “Alguns são grosseiros porque as pessoas são grosseiras também”, pondera. Ela acredita que, se houvesse mais ônibus nas linhas, e um maior número de fiscais, esse problema poderia ser amenizado.

Na tentativa de solucionar problemas como esse citado por dona Francisca, algumas empresas de transporte urbano de Fortaleza, vêm procurando capacitar seus motoristas, oferecendo cursos nas áreas de direção defensiva e relações interpessoais. É o que nos relatam alguns motoristas abordados no terminal da Parangaba.

Charles, que há três anos é motorista da Viação Fortaleza, disse que a empresa é rigorosa no processo de admissão e que se preocupa muito com a qualidade de seus serviços e com o bem-estar dos usuários. Por isso, durante o processo seletivo, é exigido dos candidatos ao cargo de motorista dois anos de experiência comprovada na carteira. Além disso, é feito teste psicotécnico para avaliar a coordenação motora e psicológica, bem como de visão e audição. Ele nos relatou ainda que de três em três meses a empresa oferece cursos de capacitação entre seus funcionários, uma espécie de reciclagem, principalmente para ensinar a lidar com os idosos. “Durante os cursos realizamos testes com pesos nas pernas e óculos escuros para sentirmos na pele a dificuldade que os idosos têm de locomoção e também para enxergar o letreiro dos ônibus. Assim podemos compreendê-los melhor e sermos mais pacientes”, completa.

Charles afirma que a empresa tem sempre um psicólogo à disposição da categoria, caso o profissional sofra de algum trauma por conta de assaltos, acidentes e até mesmo em casos de stress do cotidiano. O motorista relata ter um relacionamento de respeito mútuo com os usuários. Sua dificuldade maior no exercício da profissão é o congestionamento do trânsito nos horários de picos. Mas acredita que se as avenidas forem alargadas e os terminais aumentados esse problema será solucionado ou, pelo menos, amenizado. Quanto ao trabalho de seus colegas de profissão, ele avalia: “Não vou dizer que é excelente, porque nem todas as empresas dão capacitação, mas no geral considero bom”, comenta.

Alguns motoristas se recusaram a falar sobre qualquer assunto relacionado ao treinamento que recebem das empresas. Os que aceitaram falar não permitiram que a entrevista fosse gravada. Antônio Paiva que há três anos é motorista da empresa Maraponga, disse que a única exigência quando foi contratado é que tivesse no mínimo dois anos de experiência. Fora isso, fez somente teste de rua e nada mais. Nunca recebeu por parte da empresa nenhum tipo de curso. Mas disse que isso em nada atrapalha o seu ótimo relacionamento com os passageiros e nem seu desempenho profissional.

Marcus Thadeu, analista de recursos humanos da Via Metro, informou que para um motorista ser integrado no quadro de funcionários da empresa a exigência é de uma experiência comprovada de seis meses e uma formação mínima de escolaridade que corresponda ao ensino fundamental completo. No processo seletivo, os candidatos passam por testes psicotécnicos para averiguação de coordenação motora e também fazem um outro teste, intitulado MPK, para avaliar o nível de stress do profissional. Depois disso, o motorista realiza testes internos e externos de direção, para comprovar sua aptidão. E ainda, passa por um estágio de uma semana onde é acompanhando e avaliado pelo orientador de tráfego.

O analista fez questão de enfatizar que a Via Metro tem uma política de valorização dos funcionários, na qual "todos são parte integrante de uma família, cuja preocupação maior é o bem-estar de cada um, inclusive de seus usuários". Segundo ele, isso "é o grande diferencial da empresa". De acordo com o analista, a empresa está sempre oferecendo cursos de reciclagem para seus motoristas com o objetivo de aperfeiçoar seus serviços. Há cursos realizados em parceria com o Detran que vão desde legislação de trânsito a noções de primeiros socorros. Outros são ofertados pela própria empresa, como o de relações humanas, em que o profissional aprende a lidar com os mais diversos tipos de passageiros.

Thadeu disse ainda que a empresa mantém uma escolinha de formação de motoristas, que tem como prioridade desenvolver habilidades e o potencial dos profissionais. Ele cita até uma frase utilizada pelo time do Flamengo (RJ), há alguns anos, que dizia: “craque a gente faz em casa”, ele a modificou para, “craque a gente faz aqui dentro”, no intuito de afirmar o quanto a empresa incentiva e investe nos funcionários. Segundo ele, a Via Metro cobre 50% dos gastos que um trocador que já tem habilitação B gastaria para trocar por habilitação D. Além disso, o trocador ficará na escolinha durante três a quatro meses. Nesse período, passa por testes que medem o stress e por várias etapas de avaliação psicológica, além de assistir às aulas de direção defensiva, relações humanas, noções de manutenção de veículos.

Thadeu nos relatou também que em casos de assaltos, os motoristas e trocadores são orientados a não reagirem. Caso aconteça um episódio desse tipo, a empresa sempre chama os funcionários para uma conversa e se perceber que os mesmos ficaram com algum trauma, ela os encaminha ao psicólogo. É importante ressaltar que na semana anterior à produção desta reportagem, conversamos com um trocador da empresa Via Metro que faz a linha “Novo Maracanaú”, nos deu as mesmas informações dadas pelo analista Marcus Thadeu.

Rogério Barbosa, Administrador da empresa São José de Ribamar nos informou por telefone que não há uma capacitação aprofundada para os motoristas. Para preencher o cargo, o candidato já deve ter passado pelo exame da Etufor e do Departamento Estadual de Trânsito - Detran, além de possuir no mínimo três anos de experiência. Finalizada a análise curricular, os selecionados passam pelo teste de equilíbrio psicológico, o qual é efetuado pela própria empresa. A avaliação é realizada nas ruas, com o candidato na direção do veículo enquanto um instrutor o observa. Segundo o administrador, o motorista recebe ainda instruções de como lidar com a equipe de trabalho com o público e com o veículo.

As empresas Via Urbana e Via Máxima também foram procuradas pela nossa equipe, porém não disponibilizaram alguém para a entrevista. A representante do setor de recursos humanos da Via Urbana, Camila Sarkis, justificou por e-mail que não tiveram como se programarem para nos receber, devido ao "prazo curto" que demos e pela ausência de um dos funcionários responsáveis pelo treinamento de motoristas que está de férias. Já a outra empresa disse que não havia nenhum horário disponível na agenda.

Um comentário:

Giselle Leal disse...

Moro em Maracanaú a 25 anos, noto a diferença dos motoristas e cobradores da Via Metro, antiga Clotran e santo Antonio, quando pego os ônibus de Fortaleza que a maioria são mal educados e estressados, mas infelizmente tem alguns funicionarios da Via Metro que precisam aceitar o que é passado pela empresa nesses treinamentos, pois ja tive o desprazer de presenciar algumas cenas de desrespeito com passageiros principalmente idosos. Por isso que eu seleciono horarios dos onibus que eu pego, assim evitpo de encontrar com esse tipo de pessoa, ainda bem que são pouco a vista dos demais.