quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Dinamismo profissional


Texto: Maira Pinho, Mônika Maud, Serena Morais
Imagens: Serena Morais
Entrevista: Serena Morais


O jornalista Moacir Maia dos Santos iniciou sua participação no campo da comunicação social cedo, ainda no colégio, localizado em Limoeiro, interior do Ceará, sua cidade natal. Ele e seus colegas tinham um programa de rádio chamado Tocando o Vale pra Frente, tocado nas manhãs de domingo. Mudou-se para a capital, Fortaleza, com o objetivo de concluir o 2º grau e iniciar a faculdade que desejava, Comunicação Social.

Em poucos anos passou de estagiário em rádio para correspondente local pelo sistema Globo de Televisão. Esteve à frente de um telejornal local como apresentador, foi colunista, repórter. Um profissional que ocupou muitos cargos e que não se deixou abater pelas irregularidades e falta de ética, por acreditar na responsabilidade atribuída à sua profissão de passar informações como realmente são, à população.

Sempre esteve ligado às lutas e reivindicações por melhorias à classe dos profissionais de jornalismo, tornando-se presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) durante três anos. Durante sua gestão obteve várias conquistas para os jornalistas cearenses: ampliaram 75% dos associados do sindicato; tiveram ganho de 32 pontos percentuais acima da inflação do período, no Piso salarial; realizaram congressos e eventos.

Na entrevista realizada no Tribunal Regional do Trabalho onde ocupa o cargo de assessor de comunicação, Moacir Maia deixou bem claro, a paixão pela comunicação e diz que nunca irá se aposentar, pois sempre estará pensando em uma nova forma de informar. O jornalista esteve sereno durante toda a entrevista e demonstrou orgulho ao falar das conquistas e experiências que acumula no seu currículo.

Serena - Você veio pra Fortaleza para estudar ou tiveram outras razões?
Moacir – Na verdade, em Limoeiro [cidade natal], já tinha faculdade, a Aureliano Matos, mas não tinha terceiro ano científico, curiosamente. (...) Então eu vim pra cá pra fazer terceiro ano e vestibular. Fiz terceiro ano em três colégios distintos. Consegui uma bolsa para estudar, desde que treinasse handball. Fiz vestibular pra jornalismo e direito. Ainda fiz metade do curso de direito, na Unifor.

Serena – Porque abandonou o curso de direito?
Moacir – Foi quando eu comecei a trabalhar na Caixa Econômica, como estagiário. Fazer duas faculdades e trabalhar um expediente é pior do que trabalhar dois expedientes e fazer uma faculdade. E na realidade eu queria jornalismo. No começo foi uma dúvida fazer Engenharia de Pesca ou Jornalismo, mas como eu já tinha participado de um movimento jovem lá em Limoeiro, tínhamos um programa de rádio chamado Tocando o Vale pra Frente, feito aos domingos pela manhã, então decidi ficar na comunicação que já era algo que gostava.

Serena – Qual foi sua primeira experiência, aqui em Fortaleza, na área de Jornalismo?
Moacir – Foi em 82, fui fazer um estágio na TV Verdes Mares, na rádio. Ao final de 83apareceu uma vaga e fui contratado. Fiquei até 86 quando, depois de um curso da TV Globo, eu passei da rádio para a TV Verdes Mares.

Serena - Quando você se tornou correspondente nacional da Globo?
Moacir - Em 88 a Globo pressionou as afiliadas e determinou que montassem núcleos para atender os telejornais de rede. Fiquei 8 ou 9 anos fazendo matérias para os telejornais de rede. Um período bom, de muito aprendizado porque se tem, às vezes, muitas limitações de pauta por questões paroquiais e, quando é uma matéria pra Rede nos poupa de desgastes locais. Permitiu-me ter ido emprestado uns 3 anos seguidos para a TV Globo em São Paulo/Rio, trabalhando lá também. Foi um período muito rico em agregar conhecimento porque todo dia você aprende uma coisa nova.

Serena - Existe diferença do jornalismo local para o que é feito para Rede Nacional?
Moacir - O que eu verifico é que quando as empresas estão vinculadas a grupos econômicos e políticos, sempre existem os interesses pontuais. Mas o que, fundamentalmente, importa é se o profissional está disposto a fazer jornalismo bem feito e isso impõe, em determinados momentos, que você brigue um pouco mais, se indisponha um pouco mais sobre algumas chefias. Eu lembro que o Jornal Nacional chegou a colocar duas matérias, de dois repórteres distintos e isso para uma afiliada é algo assim [pausa] fantástico. A pauta no Jornal Nacional por exemplo, é muito fechada, com 60/70% da pauta para o Rio, São Paulo ou Brasília e o resto do país brigando por um minuto. É interessante perceber que nós podemos criar uma referência boa daquilo que produzimos e não só sair matéria da seca.

Serena - Você já teve problemas com empresas e profissionais devido a falta de ética?
Moacir - Aquele que capitular diante do imperativo ético, aquele que se deixar dobrar por interesse pontual da empresa ou de um chefe e abrir mão de cumprir estritamente o que está preconizado no código de ética da nossa profissão, não deveria nem ter entrado. Eu cheguei a ter problemas com colegas, querendo ser mais realistas que o rei, querendo agradar mais do que deveriam, ou pelo simples exercício profissional, querendo agradar “puxando o saco”. Isso me colocou em situação um pouco incômoda de ter que peitar a própria empresa. Eu lembro um episódio onde eu cheguei a dizer que não refaria a matéria por uma questão muito simples: “eu sou repórter da Verdes Mares porque eu sou jornalista. Eu não sou jornalistas porque sou repórter da Verdes Mares”. No dia que alguma empresa quiser obrigar um jornalista a fazer alguma coisa que vai em desacordo com o código de ética da profissão dele, não espere ser demitido pela empresa, demita-a antes, pois ela não te merece. O único patrimônio que um jornalista pode se dar o luxo de classificar como inalienável e que ele vai construir sua vida honestamente, é um nome que faça referência e tenha pertinência numa postura ética.

Serena – Você acha que a disciplina de Ética na faculdade é de fundamental importância?
Moacir - Eu tenho críticas ao que se tem apresentado como proposta de uma nova grade curricular para os cursos de jornalismo. O debate que vai pra sociedade e que aparece como imperativo permanente de questionamento é: porque que jornal tal não deu determinada matéria, e é esse o debate ético que está na sociedade. Pena estarmos em um momento que alguns valores da sociedade como um todo seja o ponto de vista ético na política, nos negócios. Mas eu continuo acreditando que aquilo que é necessário à formação do jornalista é que ele possa adquirir um conjunto de valores e de referência que o leve objetivamente a ter plena consciência de que o jornalismo só existe, nessa perspectiva de serviço público, quando ele está focado na defesa intransigente do interesse difuso, do interesse coletivo e isso impõe verdadeiramente a capacidade de fazer um jornalismo ético.

Serena - Como você chegou à presidência do Sindjorce?
Moacir - Eu comecei a frequentar o Sindjorce ainda estudante, depois me associei como profissional. Durante a gestão do Amaury, em 1995, eram duas chapas na disputa, então sugeri unir ambas, pois era um sindicato pequeno, não havia porque ter briga, então fomos eleitos. Para mim foi um aprendizado fantástico. Digo sempre que quem for convidado a compor uma chapa do sindicato, não pense que aquilo é trabalho ou peso nos ombros. É uma honra acima de tudo, e mais que isso, é uma oportunidade fantástica de aprendizado. Foi um período riquíssimo em que eu cresci muito como cidadão e como profissional. Foram 3 anos que trabalhamos em várias frentes, ampliamos em 75% o número de associados do sindicato , tivemos um Piso salarial com ganho de 32 pontos percentuais acima da inflação do período - os três anos acumulados, tivemos uma capacidade de inserção na vida da comunidade com o projeto Área da Cultura, fomos o sindicato que mais promoveu congressos e eventos no país inteiro nesse período.

Serena – Você pensa em se candidatar novamente ao cargo de presidente do Sindjorce?
Moacir – Eu continuo na militância como diretor da FENAJ e participo da vida do sindicato, mas não cogito um novo mandato a presidente.

Serena – Desde quando você está engajado a FENAJ?
Moacir – Eu estou na diretoria da FENAJ, no Departamento de Relações Internacionais, há três gestões seguidas.

Serena – O que o levou a entrar na área do ensino em jornalismo? O que você espera passar aos futuros jornalistas como professor?
Moacir – Uma colega de trabalho, sempre dizia para eu integrar a academia, ajudar a formar e refletir com os meninos sobre o jornalismo. Até que um dia o Alejandro [Sepúlveda, ex-coordenador do curso de Jornalismo da FIC] me ligou e convidou - era a primeira turma ainda que iria se formar da FIC – para dar a disciplina de Telejornalismo e depois a disciplina de Realidade Regional de Comunicação. Fui com o melhor dos sentimentos, a maior boa vontade, tentar ajudar. Já tentei articular com outros colegas a idéia de fazer um encontro com os professores de jornalismo aqui do Ceará, que nunca teve, pra começarmos a trabalhar uma pauta com algum sentido de unidade, objetivando a melhor formação. Isso é uma despeita, as instituições terem as suas brigas de mercado. Precisamos unir um pouco mais as nossas forças, porque parece que falta muito essa articulação. Nós, na área da comunicação, nos comunicamos muito pouco, trocamos pouco nossas experiências, recebemos pouco de auxílio dos companheiros. Eu já pensei em parar, pois é cansativo, às vezes até um pouco desestimulante, mas eu acho que temos compromisso com essa causa.

Serena – Os programas Cena Pública e Ciclo de Debates, que você apresenta na TVC, são produções relacionadas entre si ou existe uma diferenciação?
Moacir – Na verdade a pauta do Cena Pública é mais ampla possível. É discutido de célula tronco à CPI dos Grampos. Então aquilo que a experiência humana alcança, que a sociedade experimenta como objeto das suas relações cotidianas, nós temos na pauta do Cena Pública. O Ciclo de Debates já é um projeto mais novo, ele guarda obediência pra habitar mais no eixo da política e da economia. É um programa de uma pretensão um pouco mais segmentada, porém com a preocupação de estar contextualizando esses temas que pareçam ser meramente segmentados pra chegar mais amplos ao espectro da população. Eu tenho um projeto para outro programa na TVC, na área de música, que é um setor que me atrai fantasticamente. Mas é tudo uma questão de ter tempo e capacidade de se articular e fazer o projeto rodar.

Serena – Devido à experiência que você acumula, já passou pela sua cabeça relatá-las por escrito?
Moacir – Já, mas me considero meio indisciplinado naquilo que me vem como idéia às vezes. Porque eu acho que pra correr atrás daquilo que precisamos, até pra sobreviver, há necessidade de ter disciplina, pois eu sempre entrei nas coisas muito de cabeça. Nos últimos tempos eu tenho pensado mais em como refletir, não só o relato puro e simples dessas experiências, mas reflexões que permitam inclusive guardar obediência àquilo que apreendemos ao longo da vida profissional que é o sentido exato do que representa ser jornalista. Entendendo essa atividade como algo extremamente essencial à vida em sociedade, sobretudo a construção da democracia no nosso país. Eu quero ir produzindo para ajudar muito mais no debate do que mesmo só um registro histórico do que eu possa ter vivido.

Serena – E com relação ao futuro? Alguma pretensão?
Moacir - Nunca paro de pensar em coisas novas e de me envolver em outros projetos. Como dizem em Limoeiro: quando você anda de bicicleta, não pode parar de pedalar, porque senão cai. Não penso em me aposentar. Se daqui a alguns anos não for possível me manter em nenhum veículo, mesmo assim eu não quero parar de pensar em comunicação de jornalismo, então irei atrás de outros canais para expressar isso.

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